SOBRE A PÁTRIA (MORADA) DO PEQUENO PRÍNCIPE

SOBRE A PÁTRIA (MORADA) DO PEQUENO PRÍNCIPE. 

 

José Fernandes de Lima[1]

 

O livro O Pequeno Príncipe, publicado há mais de 77 anos, é um clássico da literatura. Visto por muitos como literatura infantil, o livro traz mensagens para os adultos. Foi escrito por Antoine de Saint-Exupery, em 1942 e sua primeira edição foi publicada em 1943. 

Trata da história de um principezinho, morador de um planeta bem pequeno, que resolve visitar outros lugares e acaba chegando aqui na Terra. Ao chegar aqui, ele conversa com uma cobra, depois com uma raposa e, finalmente, com um piloto que havia caído no deserto. Na conversa que manteve com o aviador, o principezinho fala da sua viagem e descreve as paradas que fez antes de chegar à Terra, nas quais encontrou um bêbado, um rei egocêntrico, um empresário ocupado, um geógrafo, um homem vaidoso e um acendedor de lampião. 

O Pequeno Príncipe é um dos cinco livros mais traduzidos do mundo e já ganhou diversas adaptações para o cinema e para o teatro. Muitos trechos dos diálogos desse livro continuam sendo motivo de citações.

Para além da importância dos diálogos instigantes, que refletem aspectos importantes do comportamento humano, estou convencido de que o sucesso editorial desse livro foi ajudado pelo interesse científico reinante na época em que o mesmo foi lançado. 

Até aquela época, década de 1940, nós sabíamos muito pouco sobre os asteroides.

Os telescópios eram incapazes de distinguir os asteroides, que eram vistos apenas como pequenos pontos de luz. Os astrônomos estavam todos interessados em descobrir mais informações sobre os asteroides. 

O choque do asteroide que atingiu a Sibéria, em 1908, continuava intrigando as pessoas que entendiam ser necessário obter mais informações sobre esses corpos que podiam configurar novas ameaças. 

O estudo dos asteroides é importante porque traz informações sobre a formação do sistema solar. 

Hoje, já sabemos que asteroides são corpos rochosos de estrutura metálica que orbitam em torno do Sol como os planetas, mas que possuem massas muito pequenas.

O diâmetro de um asteroide pode variar de centenas de quilômetros até alguns poucos metros. Aceita-se que esses corpos são fragmentos da grande explosão, são pedaços que sobraram do processo que formou os planetas interiores do sistema solar, inclusive a Terra. Eles são abundantes na faixa orbital que fica entre Marte e Júpter. 

Acredita-se que os asteroides são restos da formação planetária que nunca chegaram a formar um planeta. Muitos se solidificaram para formar os planetas e outros continuam orbitando em torno do Sol. 

Estima-se que existam cerca de um milhão de asteroides, dos quais mais de quatrocentos mil possuem diâmetro superior a um quilômetro. Os quatro maiores asteroides registrados são o Ceres, o Palas, o Vesta e o Hígia. Todos têm mais de quatrocentos quilômetros de diâmetro, sendo que o Ceres tem mais de novecentos quilômetros. 

Todos os dias, temos asteroides se chocando com a Terra. Quando são de pequenas dimensões, eles não causam grandes danos. Na maioria das vezes, são destruídos ao entrar na atmosfera terrestre e nem chegam a atingir o solo.

Nos últimos anos, os asteroides voltaram a ocupar os noticiários depois que a NASA passou a divulgar simulações e a monitorar as possibilidades de choques de asteroides de grandes dimensões. 

O livro trouxe também um assunto cuja importância vai além dos interesses daquela época. Trata-se do formato e do tamanho do asteroide – a pátria do nosso visitante – que tinha as dimensões de uma casa. 

Essa informação nos conduz a uma grande viagem reflexiva sobre um fenômeno que verificamos no nosso dia a dia. Refiro-me ao pôr do sol.  As dimensões reduzidas do asteroide permitem que você possa ter controle sobre a visualização do pôr do sol.

Nós sabemos que, se o indivíduo viajar rapidamente no sentido oeste, ou seja, no sentido do pôr do sol, poderá apreciar esse fenômeno mais de uma vez. 

Se o planeta em questão for de dimensões reduzidas, um pequeno avanço no sentido oeste permite que o indivíduo veja a repetição do pôr do sol. 

É exatamente sobre isso que o livro trata quando diz que o principezinho apreciou o pôr do sol 43 vezes num único dia. Segundo o principezinho, quando se está triste, é bom ver o pôr do sol.

Se esse artigo fosse destinado a estudantes do ensino médio, eu iria sugerir que eles calculassem a velocidade de deslocamento ao redor da Terra, sobre o equador, para que pudéssemos ver num mesmo dia 43 vezes o pôr do sol, como costumava fazer o principezinho quando estava triste.  

Para facilitar a vida do leitor, vou trocar essa tarefa por uma pergunta mais simples. 

Faria sentido discutir o pôr do sol na forma discutida no livro se o asteroide do principezinho fosse plano? 

 



[1] Professor Emérito da UFS, Presidente da Associação Sergipana de Ciência (ASCi), membro da Academia Sergipana de Educação.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SOBRE PLÁSTICOS E POLUIÇÃO

SOBRE TRANSPARÊNCIA E INVISIBILIDADE

SLOW FOOD