SOBRE PLÁSTICOS E POLUIÇÃO

SOBRE PLÁSTICOS E POLUIÇÃO

 

José Fernandes de Lima[1]

 

No último mês de março, o Boletim da Revista Nature comentou sobre o resultado da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada no Quênia, que aprovou a construção de um tratado para combater a poluição plástica. A Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente considerou o acordo firmado como o mais significativo desde o acordo climático em 2015. Foi criado um comitê que nos próximos dois anos deverá escrever um documento final com metas para o fim da poluição plástica.

 

A palavra plástico significa capaz de ser moldado. Como material, pode ser de origem natural ou sintética, obtido a partir dos derivados de petróleo ou de fontes renováveis.

A história do material plástico que conhecemos começou com Alexander Parkes, em 1862, quando ele estava procurando um substituto para a borracha e descobriu um material derivado da celulose, o qual foi denominado parkesina. A parkesina era um material flexível e impermeável. Podia ser moldada ao ser aquecida e continuava com a forma moldada ao ser esfriada. Parecia um bom substituto para a borracha, mas o alto custo de produção impediu que seu uso fosse disseminado.

Em 1869, a parkesina foi “aperfeiçoada” por Jonh Wesley, dando origem à celuloide - o primeiro polímero sintético. A descoberta de Wesley incentivou a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos similares e, por isso, ele é considerado o fundador da indústria do plástico. 

Com a virada do século, novos produtos foram gerados. A baquelite foi criada no início do século XX por Leo Hendrik. O nylon, inventado em 1930, foi muito utilizado durante a segunda guerra na fabricação de paraquedas, cordas e outras aplicações. O    poliéster foi lançado em 1950.

 

O processo de fabricação do plástico é chamado polimerização. A polimerização é um processo químico em que pequenas moléculas, chamadas monômeros, são unidas para formar cadeias longas de polímeros. No processo de polimerização, os monômeros são aquecidos e misturados com catalizadores para que as cadeias longas sejam formadas.

A moldagem é feita de acordo com a aplicação final do produto. As principais técnicas de moldagem são a injeção, a extrusão e o sopro.

Os polímeros mais usados atualmente são: o Polietileno Tereftalato PET – que é usado para fazer garrafas de refrigerantes, o Policloreto de Vinila PVC – que é usado para fazer canos de água e esgoto, o Poliestireno – que é usado para fazer as embalagens de isopor. 

O uso do plástico cresceu significativamente a partir da década de 1960. Os plásticos ajudaram a tornar as nossas vidas mais fáceis, seguras e agradáveis. O plástico beneficiou vários setores da economia, incluindo medicina, transporte, tecnologia, embalagem, construção civil, esporte e lazer. A produção passou de 1,5 milhão de toneladas, em 1950, para 265 milhões de toneladas em 2010.

 

Esse crescimento ocorreu porque o plástico é um material muito versátil que oferece muitos benefícios para a sociedade e é relevante do ponto de vista econômico. 

Para constatar a importância do plástico na nossa vida atual, basta olhar e ver quantos objetos feitos de plásticos existem à nossa volta. Algumas das vantagens do plástico incluem: durabilidade, resistência química, resistência ao impacto, leveza, e baixo custo. É por esse motivo que a demanda pelo uso do plástico continua crescendo, especialmente nos países em desenvolvimento. 

 

O uso excessivo do plástico tem um impacto significativo no meio ambiente.

Resíduos plásticos descartados de modo indevido no meio ambiente contribuem para entupimentos das tubulações durante as enchentes, prejudicam a navegação marítima e agridem a fauna aquática.

 

Em todo o planeta, são gerados, a cada ano, mais de 100 milhões de toneladas de lixo plástico. Uma parte significativa desse lixo termina poluindo os oceanos, ameaçando a vida marinha e destruindo ecossistemas naturais. Estima-se que os oceanos recebam cerca de 8 milhões de toneladas de lixo plástico por ano. Esses detritos provocam a morte dos animais marinhos. Animais como a tartaruga podem ingerir o plástico, confundindo-se com comida ou podem ficar presos em detritos de plásticos, resultando em lesões ou morte. 

Segundo relatório da ONU, se a poluição plástica dos oceanos continuar no nível atual, em 2050, a massa de plásticos nos oceanos será maior do que a massa de peixes. 

O maior problema do lixo plástico é o tempo que ele leva para sua decomposição. A maioria dos plásticos demora mais de 100 anos para se decompor. Alguns podem durar até 400 anos.

O que parece ser uma das principais qualidades do plástico é também um dos seus pontos fracos. Trata-se da sua durabilidade. 

A durabilidade do plástico já era destacada pelos artistas desde o século passado. 

O leitor deve lembrar que a música “As Flores”, lançada pela banda Titãs, em 1989, já brincava com esse tema e dizia que “As flores de plástico não morrem”. 

 

No presente momento, muitos governantes e instituições estão trabalhando para evitar a poluição produzida pelo plástico. As soluções apresentadas variam desde a redução do uso de plásticos descartáveis até a implementação de uma política de beneficiamento de resíduos.

 

Apesar dos esforços realizados, convém destacar que a transição do plástico para os produtos considerados sustentáveis será muito difícil e demandará grandes investimentos.

A principal dificuldade para substituição do plástico reside no fato dele ser muito versátil e muito mais barato do que os outros produtos.



[1] Físico, Professor, Presidente da Associação Sergipana de Ciência. 

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