DE OBJETO PARA OBJETO

DE OBJETO PARA OBJETO

 

José Fernandes de Lima[1]

 

A série de desenho animado “Os Jetsons”, exibida pela primeira vez em 1962, descrevia o cotidiano de uma família que supostamente vivia no ano 2062. A história se passava num ambiente de avanços tecnológicos onde existiam cidades suspensas, carros voadores, e eletrodomésticos altamente sofisticados. 

Ao descrever o ambiente de um futuro que deveria acontecer 100 anos depois, os autores sequer imaginavam que aquelas ideias pudessem ser alcançadas num tempo tão curto. Hoje, 40 anos antes do previsto, verificamos que muitas invenções mostradas naquela série já se tornaram objetos do dia a dia.

No caso particular dos equipamentos eletrônicos, podemos dizer que o comportamento dos objetos tende, rapidamente, a superar o comportamento imaginado pelos autores daquela série de ficção cientifica.

Essa superação decorre do advento de um fenômeno denominado internet das coisas.

A internet das coisas (em inglês – Internet of things - IoT) é um conceito proposto, em 1999, pelo pesquisador Kevin Ashton, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Trata da interconexão digital de objetos através da internet. 

A IoT é consequência de uma série de avanços tecnológicos ocorridos nos últimos anos. Tudo começou quando os pesquisadores decidiram fazer a interligação de alguns computadores das universidades. Da conexão dos computadores, passamos para a conexão entre as pessoas, em seguida, das pessoas com os objetos e, finalmente, chegamos à conexão dos objetos com os objetos.

Do ponto de vista da tecnologia, os desafios da IoT estão praticamente superados. Restam os cuidados com a segurança, com a privacidade e com a identidade dos objetos. Para entrar na rede de internet das coisas, o objeto necessita obter uma identificação por rádio frequência, conhecida como RFID. 

Na internet das coisas, os objetos conectam-se entre si e podem ser controlados através da internet, permitindo centenas de novas aplicações. Como resultado, teremos as casas inteligentes e as cidades inteligentes. Uma casa inteligente é um lugar equipado com parelhos eletrônicos ligados a uma rede de wifi ou bluetooth, submetidos a um sistema integrador que nos permite controlar várias coisas, como a iluminação, a temperatura e os eletrodomésticos em geral. Nessas condições, você pode ligar o ar-condicionado, antes de chegar em casa e desligar as luzes mesmo depois de ter saído de casa. Pode também, remotamente, abrir o portão para entrada de um amigo ou parente.

Embora ainda faltem mais de 40 anos para que cheguemos ao tempo da família Jetson, as pessoas precisam prestar atenção porque, segundo as estimativas feitas por consultorias especializadas, o número de objetos ligados à internet já supera o número total de pessoas. 

A transformação que está chegando é muito mais profunda do que as imaginadas naquela série futurista.

As máquinas ligadas de uma casa podem “aprender” as preferências de temperatura da família e controlar a temperatura da casa de acordo com o ambiente externo e mesmo de acordo com o dia da semana. As máquinas da fazenda irão aprender qual é a melhor hora do dia para irrigar determinadas plantações, em função do clima e do interesse do fazendeiro.

O passo seguinte, que já começa a acontecer, é o estabelecimento do diálogo entre os objetos sem a interferência dos humanos.  

Um automóvel que está na frente de um comboio detecta um engarrafamento e envia uma mensagem para outro automóvel que está lá atrás. O automóvel que vem atrás, além de diminuir a velocidade, envia uma mensagem para o computador do escritório avisando que o executivo que ele carrega chegará atrasado. O computador do escritório promove a reprogramação da agenda e comunica aos interessados para que tomem outras providências. Tudo isso pode acontecer enquanto o executivo conversa ao telefone ou vê um vídeo do youtube.

De forma semelhante, ao notar que o estoque de yogurt foi zerado, a geladeira pode enviar uma mensagem para o computador do supermercado mais próximo, solicitando que providencie a reposição imediata do produto, ou uma mensagem para o automóvel do patrão sugerindo que ele passe no supermercado antes de voltar para casa. 

Esses diálogos serão realizados automaticamente pelos objetos e sem a interferência de humanos.

Em outras palavras, depois de propiciar a comunicação humano/humano, e humano/máquina, a internet está propiciando, agora, a conversa de objeto para objeto. 

  



[1] Professor Emérito da UFS, Presidente da Associação Sergipana de Ciência e membro da Academia Sergipana de Educação. 

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