SOBRE A EVOLUÇÃO DOS CORREIOS

SOBRE A EVOLUÇÃO DOS CORREIOS 

 

José Fernandes de Lima[1]

 

O correio é um sistema de comunicação que trabalha com o envio de documentos, cartas e encomendas. Nesse sistema, quem envia a carta é chamado de remetente e quem recebe é o destinatário. Há um personagem muito importante, que as vezes é confundido com o próprio correio. É o carteiro. Muitas vezes dizemos chegou o correio, quando quem chegou foi o mensageiro. O carteiro é cantado em prosas e versos, ao mesmo tempo que é perseguido pelos cachorros. Era esperado com mais ansiedade, no tempo que as cartas desempenhavam papel mais importante nas comunicações.   

No início das comunicações a distância, as mensagens eram ditadas a alguém que ia viajar, com a solicitação de que fossem entregues a um destinatário no ponto de chegada ou repassadas para outro mensageiro até o destino final. 

Esse mecanismo foi substituído pelo sistema de mensagens escritas (cartas) que se mostrou mais confiável do que aquele decorrente da transmissão oral. A mensagem oral sofria modificações, quando era transmitida de um mensageiro para outro. 

A ideia de enviar mensagens através de cartas e documentos é antiga. Os primeiros sistemas de correio eram oficiais, ligados aos governantes. Em geral, não transportavam cartas particulares. O primeiro sistema de correio que passou a transportar cartas particulares foi o correio imperial romano, criado pelo imperador Augusto. Mesmo assim, era um privilégio dos oficiais do exército e dos altos funcionários. 

Na idade média, com o aumento das trocas culturais e comerciais, cada região foi desenvolvendo o seu próprio sistema de correio. Embora fossem inicialmente sistemas governamentais, os correios foram, aos poucos, sendo entregues à iniciativa privada.

Durante o renascimento, surgiram os correios – mores, que exploravam o transporte de correspondências por sua conta e risco. Exploração comercial. 

A instituição do correio particular trouxe consigo uma discussão muito importante que trata do responsável pelo pagamento do transporte. No primeiro momento, as despesas ficavam por conta do destinatário. Esse mecanismo trazia dificuldades porque, nem sempre, o destinatário concordava com a tarifa e o correio ficava com o prejuízo. 

O selo, inventado na Inglaterra, em 1840, trouxe uma solução inteligente para esse problema. Ao estabelecer o selo como condição para que a carta seja transportada, o correio inglês colocou o ônus do transporte na conta do remetente. Trata-se de um sistema muito cômodo para o correio porque ele inicia o transporte tendo já recebido pelo serviço que vai executar. 

O selo serve para estabelecer o controle das cartas transportadas. O selo mostra que a carta foi paga e pode ser transportada.  Além disso, ele evita que o remetente tenha que ir até o correio para depositar sua carta. Ele pode depositar em locais predefinidos, como as caixas de correio, muito utilizadas na Inglaterra. 

A introdução do selo acabou com as discussões que aconteciam entre o mensageiro e o destinatário, na hora da entrega das encomendas, acabou com a inadimplência e aumentou significativamente o fluxo de mensagens e de cartas. 

A vida dura do mensageiro merece uma discussão especial, pois, no passado, eles chegavam a ser assassinados quando entregavam notícias ruins. 

Nos últimos anos, o número de cartas tem diminuído, principalmente o número de cartas pessoais. Isso ocorre por causa do correio eletrônico (e-mail), por causa dos aplicativos do tipo Whatsapp e das redes sociais em geral, mas a discussão sobre quem deve pagar as despesas continua.

O span – aquela mensagem inconveniente que você recebe com frequência na sua caixa de e-mail – prospera porque é muito barato para quem envia. Basta o sujeito fazer uma mala direta, montar um robô e largar um monte daquelas mensagens que ficam enchendo as nossas caixas postais e a nossa paciência. O custo é quase zero para o remetente e uma chatice para quem recebe. 

Aqueles folhetos de propaganda que você recebe em casa também estão diminuindo, exatamente porque têm um custo significativo para o remetente. Se você diminui o custo de emissão, como acontece no caso do e-mail, o sossego do destinatário vai para o espaço.

Com a diminuição do volume de cartas, os sistemas de correio especializaram-se no transporte de mercadorias. O aumento do comercio on line, ampliou significativamente a entrega de mercadorias comercializadas pela internet. Isso fez com que os sistemas de correio se reestruturassem para atender as novas demandas do mercado. Algumas empresas têm se destacado no plano global porque desenvolveram uma logística capaz de fazer as mercadorias chegarem em lugares distantes com extrema rapidez. 

É importante destacar que o comércio on line trouxe consigo uma nova inversão do ônus do pagamento do transporte, nem sempre percebida pelos clientes.

Hoje, quando o cliente acessa o site de uma determinada empresa e escolhe uma mercadoria, o sistema de inteligência artificial solicita o endereço para entrega, calcula o preço do frete e acrescenta imediatamente ao preço da mercadoria adquirida. Isso significa dizer que o transporte deixou de ser um ônus para o remetente e passou a ser uma obrigação do destinatário. 

O ônus do pagamento pode oscilar entre o remetente e o destinatário, mas o sistema de correio não para de evoluir. Resta saber até quando. 

 



[1] Professor Emérito da UFS, Presidente da Associação Sergipana de Ciência e membro da Academia Sergipana de Educação.  

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