SOBRE A FABRICAÇÃO DE CHIPS


SOBRE A FABRICAÇÃO DE CHIPS

 

José Fernandes de Lima[1]

 

O livro Chip War, escrito por Chris Miller, foi considerado pelo Financial Times o livro de negócios do ano de 2022.

O livro descreve a trajetória do chip, desde a sua descoberta até a atual disputa entre os Estados Unidos e a China. A história envolve espionagem industrial, manipulação do mercado financeiro e até ameaças entre nações.

Chris Miller defende que o poder está concentrado no microchip. Ele afirma que os chips são mais importantes que o petróleo na geopolítica global. Os chips servem para o desenvolvimento de tecnologias, inclusive para uso militar.

Os chips semicondutores são matéria prima para fabricação de aviões, automóveis, foguetes, celulares, computadores, geladeiras, máquinas de lavar, cartões de crédito.

São importantes para o desenvolvimento da inteligência artificial, da computação em nuvens, da internet das coisas, do setor energético, setor farmacêutico e agroindustrial. 

A importância do chip é tamanha que ele tem sido chamado o novo petróleo. Os analistas econômicos dizem que a próxima crise mundial pode ser a dos chips semicondutores.

 

Em 2020, a Covid 19 provocou o fechamento das fábricas de chip e isso causou problemas para a indústria de diversos ramos. A mais afetada foi a indústria automobilística. 

Em 2021, o setor de semicondutores movimentou 528 bilhões de dólares.

No mesmo ano, a China gastou 330 bilhões de dólares na compra de chips. Mais do que os 320 bilhões gastos na compra de petróleo. Agora em 2023, com as indústrias tentando tirar o atraso, corremos o risco da falta de chips outra vez.  

À medida que as tecnologias ficam mais sofisticadas, a demanda por chips mais potentes tende a aumentar. A produção de semicondutores é um processo muito complexo. Uma fábrica leva anos para ficar pronta e outros tantos anos para começar a dar lucro.

A cadeia de produção de chips envolve Japão, Holanda, Estados Unidos e Taiwan.

Cada um desses países possui máquinas altamente especializadas. A importância dos chips semicondutores está por trás da tensão entre China e Taiwan.

 

Taiwan tem uma capacidade de mercado de 400 bilhões de dólares, ou seja, quase 80% do mercado mundial. O controle da produção de chips migrou dos Estados Unidos para a China. Atualmente, Taiwan responde por 90% da produção dos chips avançados.

Em 1990, os americanos respondiam por 37% dos semicondutores produzidos no mundo, hoje, respondem por apenas 12%. Perdeu espaço para Taiwan, Coreia do Sul e China. E os maiores fabricantes do mundo são a TSMC e a UMC.

A TSMC – Taiwan Semiconductor Manufacturing Company é uma das 12 empresas mais valiosas do mundo. Dos dez maiores clientes da TSMC, oito são americanos. A Apple responde por 25% das encomendas da TSMC.

 

A Europa e os Estados Unidos têm tentado reagir ao avanço chinês, mas ainda não obtiveram o sucesso desejado. Por isso estão investindo bilhões de dólares no setor. 

No início de 2022, a Comissão Europeia lançou a Lei do Chip, uma iniciativa que destina 15 bilhões de euros para investimentos públicos e privados no setor de chips até 2030.

Em 2022, os Estados Unidos decidiram investir 52 bilhões para impulsionar a fabricação de chips no país. Os dois principais partidos políticos se juntaram para aprovar um plano para enfrentar a guerra dos chips com a China.

 

No Brasil, andamos na contramão dos países desenvolvidos e fechamos uma fábrica de chips que começava a produzir os primeiros resultados. 

O Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (CITEC) foi criado em 2003, numa parceria entre os governos federal, estadual, municipal, universidades e a empresa Motorola. A ideia inicial era produzir chips para setores específicos, como televisores, indústrias automobilísticas, segurança e agropecuária. Paralelamente, deveriam ser criadas design houses para desenhar novos chips.

A expectativa era diminuir o déficit comercial, que em 2006 tinha sido de 9,5 bilhões de dólares. 

A CEITEC, empresa instalada em Porto Alegre, era uma estatal. No entanto, ela entrou em processo de liquidação, no ano passado (2022) porque foi considerada não lucrativa. Precisava de recursos do Tesouro para complementar suas despesas. 

O fechamento dessa empresa contraria o movimento global pois os países desenvolvidos estão correndo para instalar novas fábricas de chips.

A CEITEC era a única produtora de chips semicondutores da América Latina e

o mercado brasileiro de chips é grande. Somente a indústria automobilística, demanda quatro bilhões de chips por ano e, em 2021, o Brasil importou 7,9 bilhões de semicondutores. 

A guerra dos chips já faz parte do imaginário das pessoas. 

No início do ano, viralizou na internet a foto de uma arma utilizada pela Polícia Federal, durante a cerimônia de posse do presidente Lula, para eliminação de drones que tentassem sobrevoar a esplanada dos ministérios.

A série Black List, disponibilizada pela Netflix, inaugurou a sua 9ª temporada com um episódio que trata do roubo de segredos industriais sobre a produção de chips.

 

Diante de tais fatos, um esforço do Governo Federal para retomada da CEITEC seria bem-vindo. Alinharia as nossas ações com o movimento dos países mais desenvolvidos. 

 

Em tempo: A edição do livro Guerra dos Chips, em língua portuguesa, tem lançamento previsto para o dia 27 de abril. 

 



[1] Físico, Professor, Presidente da Associação Sergipana de Ciência.

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