SOBRE TRABALHO, TECNOLOGIAS E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

SOBRE TRABALHO, TECNOLOGIAS E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

 

José Fernandes de Lima[1]

 

As escolas que trabalham com a formação profissional vivem um dilema por não saberem com exatidão as características necessárias dos profissionais do futuro. O que se sabe é que muitas profissões que hoje são comuns podem desaparecer num futuro próximo.

Alguns especialistas têm alertado que as máquinas podem substituir os postos de trabalho. Afirmam que a robotização está substituindo o trabalho não especializado e que os desempregados por esse sistema necessitarão adquirir novas habilitações mais sofisticadas. Depois disso, voltam-se para as escolas e cobram que elas preparem para o futuro incerto.

Como mecanismo de consolação, afirmam os mesmos especialistas que os postos de trabalho a serem substituídos serão aqueles que envolvem trabalhos repetitivos. Acreditam que os trabalhos de criação continuarão sendo exclusividade dos seres humanos. 

 

Nos últimos tempos, as teorias otimistas, valorizadoras do trabalho intelectual, que nos deixavam confortáveis para curto e médio prazo, começaram a ser questionadas quando verificamos que as máquinas ficam cada vez mais “inteligentes” e capazes de desempenhar funções com uma perfeição superior ao desempenho dos seres humanos. 

A ideia confortável de que os trabalhos criativos continuariam a ser patrimônio dos humanos vai se esvaindo à medida que a inteligência artificial ganha importância e invade o nosso cotidiano. 

 

A inteligência artificial é o campo da computação que busca desenvolver algoritmos e sistemas que possam realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana, como reconhecimento de fala, visão computacional e aprendizado automático. Alguns exemplos de aplicações de inteligência artificial incluem assistentes virtuais, carros autônomos e sistemas de recomendação de conteúdos.

 

A inteligência artificial tem um potencial de substituição do trabalho humano muitas vezes maior do que aquele mostrado pela robotização, pois pode substituir também alguns trabalhos classificados como não repetitivos, inclusive aqueles classificados como trabalhos criativos. 

Essa novidade nos tira daquela zona de conforto segundo a qual os trabalhos criativos estavam livres do assédio das máquinas e a automação iria apenas liberar as pessoas para que pudessem fazer tarefas mais gratificantes.    

 

A transformação em curso é mais importante do que imaginávamos. 

 

Por isso, além de cuidar para que a substituição do trabalho humano seja feita sem provocar maiores impactos referentes à ampliação da desigualdade, necessitamos verificar que os trabalhos intelectuais também podem ser afetados.  Aquilo que se pensava ser uma coisa para o futuro distante já é presente, pois novas e potentes ferramentas de inteligência artificial já se encontram disponíveis na internet.

 

Acredite o leitor, ou não, a inteligência artificial já está substituindo uma grande parte do trabalho dito criativo, do mesmo modo que a robótica substituiu os trabalhos repetitivos. 

 

Um caso que merece ser estudado com carinho é o sistema denominado chatGPT, lançado em novembro passado.

Trata-se de uma ferramenta de inteligência artificial capaz de responder várias perguntas de uma maneira lógica, melhor do que muitas pessoas que se consideram bem-informadas. É um mecanismo mais eficiente do que os chatbots utilizados pelas lojas virtuais. Ele é capaz de responder sobre os temas mais variados, com uma profundidade e uma estrutura lógica que causa espanto. O projeto foi iniciado em 2018 e, somente agora, está sendo popularizado. 

O próprio chatGPT nos informa as suas atribuições quando responde que: “O chatGPT é um modelo de linguagem de grande escala treinado pela OpenAI. Ele é capaz de gerar textos de forma autônoma e responder perguntas com base em seu treinamento em grandes quantidades de textos da internet. Ele é utilizado para tarefas de processamento de linguagem natural, como gerar textos, traduções, resumos e muito mais.”

Inicialmente, a forma de conversação é a linguagem escrita, mas se o leitor souber um pouco de linguagem de computação, pode solicitar que ele fale, reconheça a sua voz e estabeleça uma comunicação oral. 

Se, por exemplo, o leitor deseja planejar uma viagem de férias, pode consultar o ChatGPT, pois ele o ajudará a fazer uma boa programação. Se deseja informação sobre determinado assunto, pergunte e obterá. Se quiser que ele faça uma poesia ou um trabalho científico, também pode solicitar. 

 

Retornando à situação das escolas, podemos dizer que, apesar do espanto que causa inicialmente, o novo sistema de AI possui potencial para contribuir para melhoria da educação. 

Ele permite, entre outras coisas, que haja a personificação do ensino, mediante a adaptação dos conteúdos, do ritmo e do estilo de ensino, com vistas ao atendimento das necessidades individuais dos estudantes. 

Para que isso aconteça, é importante que o uso desse instrumento nas escolas seja feito com as devidas cautelas referentes à autoria do trabalho intelectual e ao protagonismo do professor. 

 

É, portanto, urgente que os professores conheçam essas tecnologias e passem a utilizá-las da forma mais adequada possível, em benefício dos seus alunos e da sociedade.

 

O leitor também está convidado para participar dessa viagem.  

  

 



[1] Físico, Professor, Presidente da Associação Sergipana de Ciência

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