SOBRE OS SENTIDOS DA NAVEGAÇÃO
SOBRE OS SENTIDOS DA NAVEGAÇÃO
José Fernandes de Lima[1]
Quando falamos em navegação, a imagem mais forte que nos vem à cabeça é a navegação marítima. Essa navegação desempenhou um papel significativo na expansão do mundo, notadamente nos séculos XV e XVI.
Apesar da possibilidade de utilização de diferentes propulsores, o uso da vela continua sendo uma alternativa para a navegação marítima, tanto na navegação profissional como esportiva.
A arte da navegação a vela inclui muitos elementos distintos, como compreender o vento e seus efeitos sobre o barco, entender a sua direção e a sua força e saber usá-lo em seu favor para chegar até o destino desejado. No manuseio do barco, o velejador deve ser capaz de ajustar as velas e fazer as manobras necessárias para manter o barco no curso e se movendo com eficiência. Tudo isso deve ser feito sem deixar de lado as precauções necessárias para garantir a segurança do barco e da tripulação.
A navegação a vela envolve o conhecimento de várias disciplinas como matemática, física e engenharia. O velejador necessita conhecer vários tópicos como a velocidade, aceleração, bem como os efeitos dos ventos, correntes e ondas no movimento da embarcação.
As velas de um barco são projetadas para capturar e aproveitar a energia do vento, convertendo-a em movimento no sentido que se deseja navegar. A distribuição de forças nas velas dos barcos é um aspecto crucial da física da navegação. O ângulo em que a vela é ajustada em relação ao vento, também conhecido como “ângulo de ataque”, afeta a distribuição de forças na vela. Se a vela for colocada em um ângulo muito inclinado, a força do vento será muito forte e poderá fazer com que o barco tombe. Se a vela for colocada em um ângulo muito raso, o barco não se moverá com eficiência.
Nem sempre o vento aponta para o destino que se deseja alcançar. Navegar numa direção diferente da direção do vento é uma tarefa desafiadora.
Para vencer esse desafio, os velejadores devem usar uma combinação de técnicas e estratégias para aproveitar a energia do vento e convertê-la em movimento para a frente.
As técnicas usadas para navegar contra o vento envolvem navegar em um ângulo em relação ao vento, com o arco do barco apontando para o vento e as velas alinhadas para criar um fluxo de ar ideal sobre a superfície. Ao alternar repetidamente para a frente e para trás entre diferentes ângulos de aderência, o barco pode progredir contra o vento.
O desenvolviento de novas técnicas de navegação, novos formatos de velas e de embarcações continua a ser tema de trabaho de empresas e centros de pesquisa.
Algumas técnicas que hoje são encontradas nos manuais, que permitem a navegação segura e eficiente foram desenvolvidas às custas de muitas vidas humanas, ao longo do tempo.
As famosas navegações realizadas nos séculos XV e XVI contribuíram para a integração dos diferentes povos do globo terrestre e expuseram ao perigo muitos seres humanos que se aventuraram naquelas expedições.
Os livros estão cheios de histórias fascinantes sobre as navegações marítimas. Como exemplos, temos a viagem de Cristóvão Colombo, que partiu para encontrar uma rota para as Índias, mas acabou desembarcando nas Américas; a viagem de Pedro Álvares Cabral, que resultou na chegada dos portugueses ao Brasil. Não devemos esquecer a viagem de Vasco da Gama, que contornou o continente africano e conseguiu chegar até as índias.
Os participantes dessas empreitadas eram “estimulados” pelos reis e príncipes que desejavam ampliar suas terras, criar rotas de comunicação e ampliar suas riquezas.
Luis de Camões, no livro “Os Lusíadas”, publicado no século XVI, descreve a epopeia dos navegadores portugueses e o impacto de suas explorações pelo mundo. Foi a forma encontrada pelo poeta para homenagear os desbravadores daquela época. Todos lembramos os primeiros versos
As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram
O poeta Fernando Pessoa, no poema intitulado “Navegar é Preciso”, faz uso da frase “Navegar é preciso, viver não é preciso”, com a qual o general romano Pompeu (século I a.c.) incentivava os seus marinheiros amedrontados, que se recusavam a viajar durante a guerra, para refletir sobre o sentido da vida.
Nas interpretações desse poema, o verbo navegar resulta entendido em vários sentidos.
Uma interpretação considera o sentido literal da frase do general Pompeu e traduz a mesma como querendo dizer que “explorar o mundo, ser um guerreiro disciplinado é mais importante do que viver uma vida sedentária e monótona”.
A segunda interpretação joga com as palavras e conclui que a afirmação “navegar é preciso, viver não é preciso” pode ser entendida no sentido de que navegar é uma atividade científica e precisa, enquanto viver não é preciso no sentido de que a vida envolve envolve riscos e não é uma atividade previsível.
Uma terceira interpretação pode ser obtida a partir da mistura das duas primeiras e parece ter sido aquela encaminhada pelo poeta. Resulta dizer que para engrandecer sua pátria e colaborar com a evolução da humanidade, mais do que viver uma vida egoísta, é necessário dedicar a vida em prol da humanidade como um todo.
No site da Universidade de Coimbra, encontramos um convite à navegação online que faz referência à frase de Pompeu e passeia sobre o sentido da navegação, quando pergunta e responde:
Navegar não é preciso?
Não, quando navegar é sonhar, ousar, planear, arriscar, empreender, realizar....
De volta ao poema de Fernando Pessoa, podemos ainda dizer que a vida continua sendo imprecisa e que navegar pelo oceano do mundo é mais importante do que viver ancorado em dogmas.
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