SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DO MENSAGEIRO E DA MENSAGEM

SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DO MENSAGEIRO E DA MENSAGEM 

 

José Fernandes de Lima[1]

 

A comunicação é caracterizada por três elementos fundamentais: o emissor, o receptor e a mensagem. O emissor produz uma mensagem, ou seja, codifica os símbolos que descrevem a ideia a ser transmitida numa forma adequada para transmissão e envia a mesma para que seja decodificada pelo receptor. O meio utilizado para transmissão da mensagem varia desde a utilização de sinais elétricos até o uso de indivíduos denominados mensageiros.

Nós convivemos com mensagens muito importantes ao longo da nossa vida, mas nenhuma é tão fundamental quanto aquela responsável pela hereditariedade. 

A semelhança entre pais e filhos é uma característica definidora de todos os organismos vivos. O fato de algumas características físicas serem transmitidas de pai para filho já era conhecido desde muitos séculos.

Os discípulos de Pitágoras acreditavam que todas as informações para construção do novo ser já estavam contidas no espermatozoide e que a contribuição da mulher consistia em alimentar e replicar essas informações durante a gravidez. 

De acordo com essa teoria, o sêmen percorria o corpo humano e coletava informações de cada uma das partes. Ao longo da vida, o sêmen se tornava uma biblioteca móvel com todas as informações do corpo. No interior do útero, o sêmen amadurecia e se transformava em feto, graças aos nutrientes fornecidos pela mãe.

Essa teoria estabelecia uma separação entre as tarefas do homem e da mulher. O pai fornecia a informação e a mãe fornecia a nutrição.  

Aristóteles foi o primeiro a alertar que o filho podia herdar características da mãe e da avó, tanto quanto do pai. Um neto podia nascer com as características da avó ou do avô sem que essas características aparecessem nos pais.

Aristóteles foi o primeiro que arriscou dizer: “talvez o feto seja formado graças a contribuições mútuas de partes masculinas e femininas”. 

Contrariando a ideia do individuo pré-fabricado, Aristóteles propôs que a essência da hereditariedade é a transmissão de informações. De acordo com esse pensador, a mensagem advinda dos pais era utilizada para construir um ser desde o zero. 

Aristóteles não disse nada sobre o código usado na transmissão da mensagem, nem como ele era criptografado. 

As ideias do pré-fabricado e da codificação continuaram brigando até o século XIX. 

Quem trouxe a primeira grande pista para solução desse problema foi um monge chamado Gregor Mendel, que viveu de 1822 a 1884. Ele realizou experimentos com ervilhas e observou o comportamento de várias características daquelas plantas: textura da semente, cor da semente, cor da flor, cor da vargem, formato da vargem e altura da planta. 

Cruzou planta alta pura com planta baixa pura e obteve planta alta. Quando efetuou a autofertilização das novas plantas, obteve três quartos de plantas altas e um quarto de plantas baixas. 

Mendel propôs que o pólen masculino e os óvulos femininos nas flores de ervilhas contêm “elementos” associados com diferentes características das plantas parentais.

Quando esses “elementos” são reunidos por meio da fertilização, eles influenciam as características da geração seguinte de plantas.

O trabalho de Mendel foi apresentado à Sociedade de História Natural de Brünn, em 1865 e publicado no ano seguinte, mas não teve repercussão.

Em 1900, 16 anos depois da morte de Mendel, seus trabalhos foram retomados pelos pesquisadores britânicos Hugo de Vries, Carl Correns e Erich Tschermak von Seysenegg. O mendelismo foi retomado. 

Aos poucos, vai ficando claro que o comportamento observado nas ervilhas também acontece com outras plantas e animais. 

O “mendelismo” afirma que as características herdadas são determinadas pela presença de partículas físicas que existem aos pares. Essas partículas são aquilo que Mendel chamou de “elementos” e que hoje chamamos de genes.

Cada um dos nossos genes existe em um par: herdamos um de cada um de nossos pais. Tais genes foram transmitidos pelo espermatozoide e pelo óvulo que se fundiram no momento da concepção.

Tudo se encaminha para a vitória da linha baseada na transmissão da informação. Falta descobrir o código utilizado. 

A descoberta desse código começa com um trabalho realizado ainda em 1870. Nesse ano, foram descobertas estruturas microscópicas no interior das células que pareciam com minúsculos filamentos. Walther Flemming verificou que à medida que a célula ficava pronta para se dividir, os filamentos iam se dividindo pela metade. Quando a célula se dividia em duas, os filamentos eram separados - uma metade para cada célula recém-formada.

Os filamentos observados por Flemming, hoje, recebem o nome de cromossomos.

Os cromossomos são as estruturas físicas presentes em todas as células que contêm os genes.

O número de cromossomos nas células varia de ser vivo para ser vivo: as ervilhas têm quatorze em cada célula. Os humanos têm 46 em cada célula. O cachorro tem 78, o milho tem 20, a mosca de frutas (Drosóphila melanogaster) tem 8 e a borboleta tem 452.

Todas as vezes que uma célula se divide, o conjunto inteiro de cromossomos é replicado. 

Cada um dos seus cromossomos tem em seu âmago uma molécula única, inteira de DNA. Essas moléculas podem ser extremamente longas e cada uma pode conter centenas ou mesmo milhares de genes arranjados em uma cadeia, um após o outro.

O cromossomo humano no 2 contém uma sequência de mais de 1300 genes diferentes. Se esse pedaço de DNA fosse estendido, teria mais de 8 cm. 

Se fosse possível juntar e depois estender todo o DNA enrolado nos vários trilhões de células do corpo de uma pessoa e formar um fio único finíssimo, ele teria cerca de 20 bilhões de quilômetros, ou seja, mais de 100 vezes a distância da Terra até o Sol. 

O DNA tem duas tarefas importantes: 1 – codificar a informação de que as células e o organismo inteiro necessitam para crescer e se reproduzir.  2 – replicar-se de um modo preciso e confiável para que cada célula nova e cada novo organismo possam herdar um conjunto completo de instruções genéticas.

A estrutura química do DNA só foi entendida em 1953, com o trabalho de Crick e Watson. O DNA tem o formato de uma escada retorcida. Cada degrau da escada é feito com elos que se formam entre pares de moléculas chamadas de bases nitrogenadas. Essas bases são de apenas quatro tipos diferentes - adenina, timina, guanina, citosina, que podemos abreviar como A,T,G,C.

A sequência em que essas quatro bases aparecem formando os degraus da escada de DNA funciona como um código que contém as informações.

Cada trecho dessa escada é chamado de gene e é responsável por uma mensagem especifica a ser transmitida para as novas células.  Pode ser a instrução para produzir um pigmento que determinará a cor dos olhos da pessoa, que determinar a textura da ervilha ou a capacidade de sobrevida de uma bactéria.

A célula recém-criada obtém essas mensagens do DNA ao ler esse código genético e passa a agir segundo a informação recebida. Para isso é necessário fazer cópias acuradas do DNA de maneira que todas as informações nos genes possam ser transmitidas de modo fiel de uma geração de células ou de organismos para a geração seguinte.

Os genes exercem sua influência principal no comportamento de células e, em última instância, dos organismos inteiros. São eles que informam às células como devem ser construídas as proteínas.

Essa informação é crucial para a vida porque as proteínas são responsáveis pela maior parte das atividades que ocorrem na célula. 

Hoje, sabemos que a mensagem responsável pela hereditariedade é uma mensagem fundamental. Ela é transmitida através do DNA. É bem escrita e é transmitida com bastante fidelidade. O DNA funciona como um manual de instruções para fabricação dos seres vivos. O DNA é dividido em segmentos chamados cromossomos e em unidades individuais mais curtas chamadas genes. A soma de todos os genes é o que chamamos de genoma. 

A mensagem transmitida pelos genes pode ser classificada como altamente confiável.

Ela é tão confiável que pode durar dezena de milhares de anos. 

Mesmo depois que você morrer e desaparecer, se os seus descendentes continuarem a produzir descendentes, os seus genes continuarão existindo. 

 



[1] Físico e Professor

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