SOBRE A VALIDAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

SOBRE A VALIDAÇÃO DO CONHECIENTO CIENTÍFICO 

 

José Fernandes de Lima[1]

 

Nos últimos tempos, a sociedade brasileira andou discutindo sobre a necessidade de seguir ou não as recomendações dos cientistas. Considerações políticas contribuíram para colocar em oposição pessoas que defendem e que atacam a ciência. A forma como tem ocorrido a discussão pouco contribui para esclarecer os processos de geração e divulgação dos conhecimentos científicos. 

A produção científica pode ser feita em diferentes lugares, embora, atualmente, ela seja feita principalmente nas universidades e nos grandes laboratórios. A produção científica feita nessas instituições é escoada através da publicação nas revistas cientificas especializadas que adotam o filtro da revisão por pares.

Para ser reconhecido como um conhecimento científico, o conhecimento deve ser baseado em observações e experimentações cuja veracidade possa ser testada por outros pesquisadores em qualquer parte do mundo. 

A legitimação do trabalho científico é dada pelos pares, ou seja, pelos cientistas que trabalham na mesma área.

Os primeiros espaços de reconhecimento da atividade científica foram as academias cientificas. As sociedades científicas do jeito como as conhecemos atualmente tiveram início no século XVII. A Royal Society of London foi criada em 1660. Em 1666, foi fundada a Academia de Ciências de Paris e a Academia de Ciências de Berlim foi criada em 1700. Em 1916, foi fundada a Sociedade Brasileira de Ciências, que em 1929, foi transformada na Academia Brasileira de Ciências. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi fundada em 1948.

Os resultados obtidos nas pesquisas eram inicialmente apresentados nas Academias e, em seguida, eram publicados nas revistas feitas pelas próprias academias.  A revista Phylosophical Transactions, mantida pela Royal Society of London, é a revista mais antiga, ligada a academia, que continua em circulação. 

No século XIX, o envolvimento das universidades com o tema da pesquisa resultou num grande aumento do número de publicações. A produção científica deixou de ser individual e passou a ser organizada pelas instituições acadêmicas e pelos laboratórios. Hoje, é possível encontrar artigos assinados por dezenas de pesquisadores vinculados a instituições de várias partes do mundo.

Apesar dessa modificação, a produção científica feita pelas universidades e instituições de pesquisa continua sendo divulgada através de artigos publicados em revistas especializadas.

As revistas aceitam gratuitamente artigos para publicação, mas o processo segue o ritual de avaliação pelos pares e pode demorar meses ou até anos. Na revisão por pares, o artigo recebido pela revista é enviado a cientistas especialistas da mesma área de conhecimento que julgam o mérito do trabalho. O serviço de revisão é feito anonimamente pelos cientistas mais experientes. Os pareceres emitidos pelos árbitros voltam para o autor e tem início um processo de revisões até que o trabalho seja aceito para publicação ou definitivamente recusado. É através da discussão entre pares que os conceitos vão se tornando aceitos pela comunidade. 

Os autores de trabalhos publicados podem ser convidados para atuar como revisores de outros trabalhos. 

Com o aumento do número de pesquisas disponíveis para publicação, a atividade editorial tornou-se mais complexa e mais dispendiosa, criando dificuldades para que as pessoas possam ter acesso aos periódicos. Embora o advento da internet tenha trazido 

a possibilidade de o leitor comprar um artigo isolado, o acesso aos periódicos continua muito dispendioso. As instituições necessitam manter a assinatura de revistas para que seus pesquisadores fiquem atualizados.

Nos últimos tempos, a comunidade científica tem procurado novos caminhos para facilitar o acesso das pessoas ao conhecimento científico. O movimento que recebe o nome de ciência aberta visa diminuir o tempo entre a produção do artigo e a sua divulgação e, além disso, tornar gratuita a leitura. 

Para agilizar a divulgação, as revistas têm adotado o sistema de Preprints, mediante o qual o artigo pode ser visualizado mesmo antes de sua aprovação final.

A questão da leitura gratuita tem sido abordada através da criação das revistas de acesso aberto. Nesse sistema, os autores pagam pela publicação de seus artigos, enquanto os leitores têm acesso gratuito à leitura.

Como podemos constatar na descrição acima, o processo de validação do conhecimento científico é exaustivo e requer muito esforço da parte dos pesquisadores.

No entanto, mesmo sendo demorado e dispendioso, esse processo é fundamental para garantir que o conhecimento científico cresça unificado em torno de consensos e siga avançando de forma contínua e segura. 

É através desses refinamentos que o conhecimento científico se torna útil e confiável. 

 



[1] Físico e Professor

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