SOBRE O TAMANHO DAS ESCULTURAS

SOBRE O TAMANHO DAS ESCULTURAS

José Fernandes de Lima[1]

 

Quem visita Aracaju e tem a oportunidade de ir até o Largo da Gente Sergipana pode apreciar as esculturas que representam personagens do folclore sergipano. Defronte ao Museu da Gente Sergipana, em uma estrutura que avança sobre o Rio Sergipe, o visitante encontra oito esculturas que chamam a atenção pelo acabamento, pela proporcionalidade e pela história que representam. As estátuas medem 7 metros de altura, guardam as mesmas proporções das pessoas comuns e são fixadas sobre uma base resistente, feita de metal e concreto. Elas contam sobre a vida e sobre a cultura do povo sergipano. Lá, o visitante encontra imagens que representam as principais manifestações culturais como o Lambe Sujo, a Chegança, o Cacumbi, a Taieira, o Bacamarteiro, o Reisado, o São Gonçalo e o Parafuso.

Depois de apreciar a paisagem do Rio Sergipe e de aprender um pouco sobre a cultura sergipana, o visitante pode ainda refletir sobre o efeito do aumento da escala. 

A preservação das formas e das feições de uma estátua, como fizeram os artistas e engenheiros daquela obra, traz à tona o problema da escala. 

Toda vez que você aumenta significativamente o tamanho de um objeto, mantendo a escala e o material, você corre o risco de perder a estabilidade e necessita reforçar a fundação, porque o peso aumenta mais depressa do que a resistência da base. Isso ocorre porque a resistência de uma coluna, por exemplo, é proporcional à área transversal da mesma, enquanto o peso é proporcional ao volume. 

Se nós esticarmos as arestas de um cubo de modo que elas fiquem com o dobro do tamanho original, verificamos que a área da base ficará 4 vezes maior e o volume do cubo ficará 8 vezem maior do que o original. Se aumentarmos a aresta 4 vezes, a resistência será multiplicada por 16 e o volume será multiplicado por 64 e assim por diante. A área cresce com o quadrado do fator de aumento e o volume cresce com o cubo do mesmo fator. 

A pressão é uma grandeza que mede a força por unidade de área. Cada material tem uma resistência máxima a pressão, de modo que, acima desse valor, ele deforma ou quebra.

As esculturas referidas acima estão montadas em bases de metal e concreto que suportam grandes pressões, grandes pesos por área e, por isso, estão totalmente seguras. 

Se, no entanto, as estátuas fossem seres humanos aumentados, a densidade dos seus corpos continuaria a mesma e os seus pesos seriam proporcionais aos seus volumes. 

Já foi dito que as estátuas do Largo da Gente Sergipano têm 7 metros de altura. Isso corresponde a quatro vezes a altura de um homem de 1,75m, que pode ser tomado como padrão.

Se considerarmos que o homem padrão adotado no nosso exemplo tem uma massa de 80kg, o homem correspondente a estátua de 7 metros teria uma massa 64 vezes maior, ou seja, teria uma massa de 5.120 kg. Nesse caso, ele teria problema de sustentação e seus pés poderiam ser esmagados pelo próprio peso. 

Isso não acontece com aquelas estátuas porque elas são ocas e suas bases foram propositadamente feitas de metal e concreto, que são materiais resistentes a pressão.

Devidamente motivado, depois de pensar sobre o problema da escala, o visitante pode continuar viajando nos seus pensamentos, lembrar que a literatura está povoada de personagens que aumentam e diminuem de tamanho com facilidade e pode refletir sobre as dificuldades que esses personagens teriam para manter os seus corpos feitos do mesmo material e com as mesmas proporções. Muito provavelmente, lembrará do livro As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, de filmes como Terra de Gigantes e de outros que tanto estimulam a imaginação. 

Há muito para ser visto  e imaginado no Largo da Gente Sergipana.


[1] Professor Emérito da UFS, Presidente da Associação Sergipana de Ciência (ASCi).

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