SOBRE A RODA

SOBRE A RODA

José Fernandes de Lima[1]

A roda é um objeto circular que ao girar em torno de um eixo central torna-se uma máquina simples capaz de facilitar a movimentação e o transporte de objetos.  É uma das invenções mais revolucionárias da história. 

Há evidências do uso da roda que datam de 3.500 a.C. na região da antiga Suméria, na Mesopotâmia. Originalmente, as rodas eram feitas de tábuas de madeira e evoluíram para incluir aros de madeira e, posteriormente, aros de metal. Ao longo dos séculos, a roda evoluiu, com inovações como o aro pneumático, no século XIX, que foi um grande avanço para as bicicletas.

A criação da roda é um exemplo emblemático da criatividade humana, pois não havia exemplos de roda na natureza para inspirar a sua invenção.

A roda transformou drasticamente a forma como as sociedades se moviam, produziam e interagiam, tornando-se um símbolo do progresso. A roda facilitou e impulsionou o comércio. Revolucionou a maneira como as mercadorias eram movimentadas e as distâncias que podiam ser percorridas. Tornou possível transportar cargas mais pesadas e volumosas por longas distâncias.

Além de nomear a máquina simples que facilita o transporte de objetos, a palavra roda pode ter vários significados. 

A roda de amigos é um encontro informal onde pessoas que compartilham de amizade se reúnem para desfrutar da companhia uns dos outros. A roda de amigos pode envolver atividades como jogos, conversas, refeições ou pode servir simplesmente para passar tempo juntos. É uma oportunidade de descontração e fortalecimento de relações pessoais. 

A roda de conversa é uma técnica de diálogo em grupo que promove a troca de ideias e experiências de maneira democrática e igualitária. Todos os participantes têm a oportunidade de falar e serem ouvidos, o que facilita a comunicação e o entendimento mútuo. A roda de conversa é comum em ambientes educacionais, terapêuticos e em reuniões comunitárias.

Na poesia e na música, a roda é frequentemente utilizada como uma metáfora para representar ciclos, continuidade e movimento. Ela pode simbolizar a natureza cíclica da vida, as estações que se sucedem ou até mesmo a repetição de padrões em relacionamentos e eventos. 

Fernando Pessoa, em seu poema “Autopsicografia” usa a imagem da roda para descrever o coração e a natureza cíclica das emoções. 

Autopsicografia

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor 

A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda 

Que se chama coração. 

 

A música “Roda Viva”, de Chico Buarque, considerada uma das maiores músicas brasileiras de todos os tempos, evoca a imagem de um movimento constante e parece referir-se à natureza cíclica da vida e das experiências humanas, quando diz:

Roda mundo, roda gigante, 

Roda moinho, roda pião.

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração.... 

 

A roda tem um papel central em muitas culturas, especialmente em cantigas de roda, que são formas tradicionais de música e dança. As cantigas de roda são importantes na educação infantil, pois além de entreter, elas contribuem para o desenvolvimento físico, emocional e social das crianças.

A roda de música na educação infantil é uma atividade lúdica que estimula a linguagem, a comunicação e a socialização.  A roda de música promove a criatividade e a imaginação, incentivando as crianças a explorar novas ideias e expressões artísticas.

A roda é um símbolo poderoso que representa movimento, progresso e interconexão com a vida. O círculo, a forma da roda, é frequentemente associado à perfeição e a eternidade, pois não tem começo nem fim.

 



[1] Físico e Professor 

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