SOBRE PIRILAMPOS

SOBRE PIRILAMPOS

 

José Fernandes de Lima

 

Sem qualquer justificativa plausível, lembrei de um personagem que parece andar desaparecido. Para me certificar se tal desaparecimento é real, resolvi consultar meu colega de mesa sobre o assunto. 

Perguntado sobre a última vez que tinha visto um pirilampo, meu colega ficou assustado e instintivamente pegou o smartphone para procurar no google algum significado para aquela conversa.

Reconheço a dificuldade do meu amigo para falar sobre esse assunto porque já faz muito tempo que eu mesmo não vejo um pirilampo. 

 

Para quem não está ligando o nome à pessoa, eu lembro que o pirilampo é aquele bichinho que tem uma luzinha na barriga e é também conhecido pelo nome de vagalume.

Quando pequeno, eu ficava admirado com os vagalumes. Ficava querendo saber como eles faziam para piscar e até capturava alguns para guardar numa caixa de fósforos.

Alguns leitores de mais idade devem ter lembranças semelhantes.

 

Para aqueles que não recordam direito das aulas de biologia, eu lembro que o vagalume é um inseto da ordem dos coleópteros.  Os vagalumes medem de 10 a 20 milímetros. 

Existem muitos tipos de vagalume. Há um tipo que acende na região dos olhos, há outro que acende uma listra ao longo do corpo e há esse com o qual nós estamos mais acostumados, da família dos lampirídeos, que tem uma lampadinha na parte inferior do abdome.

 

O vagalume tem hábitos noturnos, ou seja, gosta de sair de noite. Os sinais luminosos que ele emite servem para espantar os predadores, para atrair as presas e principalmente para chamar a atenção dos parceiros para o ato sexual.

 

Os vagalumes estão desaparecendo. As principais causas do desaparecimento são a poluição, o desmatamento e o aumento da presença de luzes artificiais nos lugares onde eles viviam. 

O fato das cidades, das fazendas e das matas estarem cada vez mais iluminadas complica a vida dos vagalumes. Se o ambiente for muito iluminado, eles têm dificuldade de se comunicar e a capacidade de reprodução diminui.

Esse é um motivo pelo qual torna-se cada vez mais difícil encontrar vagalumes.

 

A luz produzida pelo vagalume decorre de um processo de bioluminescência.

Ele produz uma substância chamada luciferina que ao entrar em contato com o oxigênio, forma a oxiluciferina que apresenta elétrons em estado excitado. Quando esses elétrons decaem, dá-se a emissão de luz. Em geral, é uma luz esverdeada.

 

A luz emitida pelo vagalume é uma luz fria. Isso quer dizer que o processo luminoso que ele produz é muito eficiente. 

Enquanto uma lâmpada incandescente desperdiça mais de 90% da energia para geração de calor, no processo de bioluminescência, a eficiência é superior a 90%, ou seja, pouquíssima energia é desperdiçada na forma de calor. 

 

Na música “Solidão de Amigos”, cantada por Jessé, em 1985, os compositores Mário Maranhão e Eunice Barbosa lembraram a luz dos pirilampos nos versos:

Quando a cachoeira desce nos barrancos

Faz a várzea inteira encolher de espanto

Lenha na fogueira, luz de pirilampos

Cinzas de saudades voam pelos campos.

 

Diferentemente do que acontece com a Joaninha, que virou personagem da PIXAR, o vagalume é muito pouco cantado. 

Pelo encantamento que o pirilampo provoca nas crianças, essa falta de citação parece uma injustiça. 

 

Para não dizer que ele nunca recebeu uma homenagem, na década de 1970, a Editora Ática lançou a Coleção Vaga-lume, voltada para o público infanto juvenil, que fez um enorme sucesso. Ela se popularizou por seu uso nas escolas e seu sucesso perdurou por mais de 40 anos. 

Alguns leitores mais antigos devem lembrar de seus livros. 

 

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