SOBRE O BURACO CHINÊS E OUTROS DESAFIOS

SOBRE O BURACO CHINÊS E OUTROS DESAFIOS

 

José Fernandes de Lima[1]

 

No início de junho, os jornais noticiaram que a China deu início a escavação de um gigantesco buraco que terá 11,1 quilômetros de profundidade e será o maior poço de petróleo já feito na história da China.

Desenvolvido na região noroeste do país, além de buscar por petróleo, o projeto visa a realização de pesquisas científicas. Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, o poço atravessará 10 estratos geológicos e atingirá camadas do período cretáceo, entre 145 e 66 milhões de anos atras.

 

Apesar de ser muito profunda, a escavação em andamento não será a mais profunda da história, pois um buraco mais profundo já foi feito na Rússia, com 12,2 quilômetros de profundidade, embora tenha sido abandonado por problemas técnicos.

Nos estados Unidos, no estado de Oklahoma, há um buraco semelhante, de 9,5 quilômetros.

O sucesso do projeto chinês dependerá fortemente da superação das dificuldades tecnológicas envolvidas no mesmo.

 

A perfuração de buracos na Terra costuma mexer com a imaginação das pessoas e levá-las a pensar como seria cavar um buraco de um lado do globo para sair do lado oposto. Por exemplo: as crianças falam sobre fazer um buraco no Brasil para sair no Japão.

 

Houve uma criança que queria saber se cavando um buraco para ir de um lado para outro do globo terrestre, sairia em pé ou de cabeça para baixo. Foi obrigada a estudar Física para entender um pouco sobre a força da gravidade e seu efeito de atração para o centro da Terra.

 

Esse tipo de imaginação foi explorado com sucesso por Júlio Verne, ao escrever o livro Viagem ao Centro da Terra, publicado em 1864 e considerado um dos clássicos da ficção científica. 

 

No livro de Júlio Verne, o professor Lindenbrock, geólogo, professor de geologia e mineralogia, resolveu viajar até o centro da Terra.

 

Acompanhado de seu sobrinho Axel e do empregado Hans, o professor Lindenbrock entrou numa cratera do vulcão Sneffels, situado na Islândia, e mergulhou no centro da Terra, onde se deparou com um novo mundo no interior do nosso planeta. Somente depois de muitas peripécias, eles conseguem sair através de vulcão Etna, localizado na Itália.

 

A busca por entender como é o interior da Terra é bastante antiga. Depois de várias teorias, chegou-se a teoria atual que diz que a Terra tem um raio de 6370 quilômetros e é composta de três camadas: a crosta, o manto e o núcleo.

 

A crosta é a camada mais superficial com uma espessura média entre 30 e 40 quilômetros. No fundo dos oceanos essa camada pode ser bem mais fina. 

Logo abaixo da crosta, vem o manto que se estende até a profundidade de 2900 quilômetros. A partir desse ponto, temos o núcleo, dividido em núcleo externo (líquido) e o núcleo interno (que se encontra no estado sólido).

 

Das três viagens propostas na ficção de Júlio Verne, duas – Viagem à Lua e Viagem ao Fundo do mar – já foram realizadas com relativo sucesso, mas a Viagem ao centro da Terra continua impossível por causa de desafios não superados. 

 

De acordo com os conhecimentos atuais, tal viagem é impossível porque há dificuldades tecnológicas que ainda não conseguimos superar. 

A primeira refere-se a temperatura. Estudos demonstraram que a temperatura aumenta cerca de 1 grau para cada 33 metros de profundidade. Para cada quilômetro de profundidade, devemos ter um aumento de temperatura da ordem de 30 graus.  

 

O segundo fator que dificulta a vida em grandes profundidades é o aumento da pressão. Estima-se que a pressão no centro da Terra seja da ordem de 3 milhões de vezes maior do que a pressão na superfície.

 

Esses dados indicam a dificuldade para a realização da aventura descrita por Júlio Verne, mas a imaginação dos artistas não deve ser limitada.



[1] Físico, Professor, Presidente da Associação Sergipana de Ciência 

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