SOBRE PROMPTS

SOBRE PROMPTS

José Fernandes de Lima[1]

A inteligência artificial deixou de ser um tema distante para se tornar parte da rotina de milhões de pessoas.

O uso das ferramentas de inteligência artificial no nosso cotidiano exige que mudemos nossa maneira de nos relacionarmos com o consumo de informações. Antes, nós digitávamos uma palavra no sistema de busca e recebíamos como resposta uma seleção de links com possíveis resultados. Agora, fazemos uma pergunta e recebemos um resumo do que o sistema identifica como as respostas relevantes encontradas nas fontes pesquisadas. Isso resulta na obtenção de respostas completamente diferentes daquelas anteriores. 

É nesse novo contexto que entra em cena um personagem chamado prompt.

Um prompt é uma instrução ou comando dado a uma inteligência artificial para gerar uma resposta específica. Ele atua como uma ligação entre o humano e a máquina.

Ele pode ser uma simples pergunta ou uma descrição detalhada que orienta o contexto, o formato e o tom da resposta desejada. 

Para garantir que obterá a resposta desejada, você necessita fazer o pedido com clareza. 

O prompt, essa palavra nova, difícil, é, na verdade, só o começo da conversa. O homem escreve, a máquina responde. Entre eles, esse pequeno gesto: uma frase, uma pergunta, uma ordem.

O prompt cumpre o papel que, em outros tempos, coube às cartas: condensar em poucas linhas uma intenção, uma ordem, um pedido. 

Assim como quem escreve uma carta nunca tem certeza de como ela será recebida, também quem digita um prompt se lança no risco da interpretação – a máquina pode entender demais ou de menos, pode devolver poesia ou cálculo. 

Para evitar que a máquina forneça respostas diferentes da que você deseja, é preciso saber escrever o prompt corretamente. 

Hoje, já existe até uma nova profissão: a chamada engenharia de prompts. É uma área do conhecimento que ensina a fazer as perguntas certas. A engenharia de prompt nos ensina que um prompt correto deve ser escrito de forma muito precisa, deve definir um contexto, definir o tom a ser usado na resposta.

Você pode, por exemplo, fazer um prompt dizendo: “escreva um texto sobre educação”, ou pode ser mais específico e dizer: “escreva um texto de 400 palavras sobre educação. Use um tom acadêmico, e forneça as fontes pesquisadas”.  Pode ainda ser mais específico e acrescentar que o texto será dirigido a estudantes do ensino médio que estão se preparando para escolher uma profissão.

Por isso, antes de perguntar à inteligência artificial, é conveniente ter uma ideia da resposta que deseja receber. A forma como você deseja que a resposta seja apresentada é muito importante, tão importante quanto o resultado em si. 

Além disso, se você desconfia que a resposta contém alguma informação incorreta, peça que a IA revele a fonte e explique melhor. 

Os antigos diziam, em tom de brincadeira, que se deve tomar cuidado com o que se pede a Deus, pois ele pode atender. 

Cabe registrar que se depois da quarta ou quinta interação, você repetir a pergunta, a resposta obtida será diferente. Tudo se passa como se estivéssemos revivendo a tese de Heráclito – não se pode entrar duas vezes no mesmo fluxo de dados, pois cada interação reinventa o diálogo.

Do ponto de vista filosófico, há quem diga que o prompt é apenas um comando. Outros preferem vê-lo como um gesto inaugural: o instante em que o humano estende a mão para a máquina.

É nesse espaço mínimo entre a pergunta e a resposta que se desenha uma nova forma de diálogo. O prompt deixa de ser uma técnica e passa a ser uma metáfora da nossa busca por sentido diante daquilo que não sentimos. 

Há quem veja o prompt como uma oração. Afinal, é uma súplica dirigida a uma entidade invisível, que responde sem rosto e sem corpo. O humano pede, implora, formula desejos; a máquina devolve respostas, como se fosse um oráculo moderno. E, tal como nas orações, o que importa não é apenas o que se pede, mas a forma como se pede; a clareza, a fé, a insistência.  

Alguns preferem compará-lo a um comando militar. Breve, seco, imperativo, como: “avançar”, “recuar”, “gerar”. A máquina obedece sem hesitar, sem discutir, sem negociar. Mas mesmo aqui há um paradoxo; o comando só é eficaz se for preciso. Um verbo mal colocado, uma ordem mal formulada e um exército digital se dispersa em direções inesperadas. Dizemos que a IA alucinou. 

A terceira comparação é mais assustadora. Há quem perceba o prompt como uma confissão, pois ao escrever, o humano revela algo de si – sua curiosidade, sua ignorância, sua ansiedade. A máquina não julga, apenas responde. Mas o ato de formular tais perguntas já é uma revelação.  

No fim. o prompt é mais do que uma ferramenta, é a metáfora de própria condição humana. Somos criaturas que perguntam, que lançam palavras ao vazio esperando respostas.

O prompt se mostra como uma síntese de todas as formas de comunicação que a humanidade inventou. Trata-se de um fio que liga o humano ao não humano, a palavra que abre o diálogo com o desconhecido. 

O prompt é como aquele bilhete rápido que deixamos colado na geladeira: “comprar pão”. Simples, direto, mas cheio de implicações. A máquina deve ler, interpretar e devolver.

Em outras palavras, a linguagem que antes era tratada como coisa da literatura, virou um fator de sobrevivência digital.

NOTA: Já tinha concluído este artigo quando tomei conhecimento de uma pesquisa, realizada pelos pesquisadores do Icaro Lab, na Itália, que mostra que prompts em forma de poesia são capazes de desorientar a inteligência artificial.

 

 



[1] Físico e Professor

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