SOLUÇOS E BOCEJOS
SOLUÇOS E BOCEJOS
José Fernandes de Lima[1]
Quando, dias atrás, tentei articular com uma amiga querida uma conversa sobre as notícias que circulavam na esfera política sobre os soluços do ex-presidente, ela, discretamente, começou a bocejar. Deduzi que ela estava muito cansada e suspendi a conversa, sem, no entanto, deixar de pensar sobre o assunto.
O soluço é um reflexo caracterizado por uma contração involuntária e repetida do diafragma, que é o músculo principal da respiração, seguida do fechamento rápido da glote, o que causa um som típico. Ele pode ocorrer após o individuo comer demais, ingerir bebidas gasosas ou alcoólicas, estresses, irritação de nervos como o vago e o frênico, ou por causas mais sérias, como doenças gastrointestinais, neurológicas ou tumores.
O soluço normalmente é benigno e passa sozinho, mas soluços persistentes podem ser indicativos de problemas mais graves e necessitar de avaliação médica.
Funcionalmente, os cientistas ainda não sabem exatamente o propósito do soluço, mas algumas hipóteses sugerem que seja um remanescente evolutivo ligado à respiração em ancestrais aquáticos.
Dependendo da sua frequência e velocidade, o soluço pode alterar as funções de deglutição, respiração e fala, pois os órgãos e os mecanismos responsáveis por estas funções se alteram diante deste evento, ocasionando anormalidades em sua funcionalidade. Isso pode demandar uma abordagem terapêutica fonoaudiológica.
As recomendações populares para a cura do soluço são as mais variadas. Assim que o soluço começa, surge logo alguém sugerindo: levante os braços, tome água gelada, coloque borracha na testa, prenda a respiração, chupe limão, coloque açúcar na língua. Há também quem recomende tomar um susto. Na realidade, essa última recomendação deve ser dada para alguém próxima da vítima, para que ela esteja desprevenida na hora do susto.
No caso das crianças pequenas, a recomendação é colocar um alinha vermelhar na testa do bebê.
O susto pode curar o soluço?
Em tese, pode sim. Quando uma pessoa leva um susto, dependendo da sua intensidade, há a liberação de adrenalina, que restabelece o funcionamento do nervo frênico (é ele quem controla os movimentos do diafragma) e dessa forma o fluxo de contrações do músculo pode voltar ao normal. Há, no entanto, outras formas menos traumáticas de curar o soluço: prender a respiração por alguns segundos e soltar o ar aos poucos, dobrar o corpo para a frente, respirar dentro de um saco fechado por alguns segundos, tomar alguns goles de água.
Em geral, o soluço desaparece em até dois dias. Esse tipo de soluço benigno, que afeta todas as idades, costuma ir e vir de forma espontânea ou a partir de eventos como uma grande e rápida ingestão de água, comida ou ar.
O soluço persistente muitas vezes está associado a irritação do nervo frênico, pelas alterações gástricas, doenças abdominais, como os refluxos. Do ponto de vista neurológico, está associado a lesões cerebrais graves, traumatismos, acidente vascular cerebral isquêmico, hemorragia cerebral e tumores cerebrais.
O soluço persistente, que pode durar mais de um mês, pode acarretar consequências significativas na vida do paciente, como dificuldade de falar, exaustão física e mental, insônia e desnutrição.
Algumas vezes, o soluço ocorre durante o choro convulsivo. Soluçar durante o choro é comum e está ligado às mudanças na respiração e à ativação nervosa decorrentes da emoção intensa e do esforço respiratório próprio do ato de chorar. O soluço durante o choro acontece porque, ao chorar muito, a respiração fica descompassada e irregular, o que estimula excessivamente o diafragma levando às contrações involuntárias que causam o soluço.
Outro reflexo involuntário que está presente no nosso dia a dia é o bocejo. Ele ocorre quando o corpo precisa de uma respiração mais profunda, geralmente em situações de sonolência cansaço ou tédio.
O bocejo é um ato caracterizado por abrir a boca e inspirar profundamente, com função principal associada à regulação da temperatura cerebral, para promover um estado de maior alerta e vigília no organismo. Esse reflexo é controlado por áreas do cérebro, como o hipotálamo, que regula funções como o sono e a fome. Ao abrir a boca e inspirar profundamente, o sangue quente é trocado por sangue mais frio, regulando a temperatura cerebral.
Num momento crucial da série “Adolescente”, o personagem Jamie boceja enquanto uma psicóloga o interroga sobre o assassinato de uma colega de escola. O bocejo não estava no roteiro. O ator Owen Cooper, que na época tinha apenas quatorze anos de idade, sentiu-se tão à vontade durante aquela cena prolongada que se deu ao luxo de bocejar e continuar sua atuação como se nada tivesse acontecido. Os críticos consideram que o jovem Owen Cooper é um ator de muito futuro.
O bocejo pode ser contagioso, ou seja, ao ver outra pessoa bocejando, temos a tendência de bocejar também.
Ao longo da vida, uma pessoa boceja, em média, 250 mil vezes. Isso é muita oportunidade de contagiar os outros. Quanto maior o cérebro de um animal, mais longo tende a ser seu bocejo. Os humanos bocejam cerca de 6 segundos, durante os quais o coração pode acelerar até 30%. A girafa é um dos poucos vertebrados que não sabe bocejar.
O bocejo é tão contagiante que ao ouvir falar, ler sobre o bocejo ou ver a fotografia de alguém bocejando, o indivíduo pode sentir vontade de bocejar.
Por oportuno, convém destacar que o espirro, que joga no mesmo time dos reflexos involuntários, queria porque queria participar desse artigo, mas foi barrado por falta de espaço.
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