Sobre o QUASE

Sobre o QUASE.

José Fernandes de Lima[1]

A palavra “quase” é um advérbio que carrega vários sentidos linguísticos, dependendo do contexto em que é usada. Pode ser usada no sentido de aproximação temporal ou espacial – “quase” é frequentemente usado para indicar que algo está muito próximo de acontecer ou de ser alcançado. Exemplo: quase chegou a tempo. Pode ser usado no sentido da proximidade em termos de quantidade ou intensidade – pode sugerir que algo está muito perto de atingir um certo limite, mas sem chegar lá. Exemplo: a casa estava quase pronta.

O “quase” pode implicar que, embora algo tenha sido feito, não foi suficiente para alcançar o objetivo desejado. Exemplo: eu quase consegui terminar o projeto. Denota que algo foi tentado ou aproximado, mas não se concluiu. Exemplo: faltou pouco para a solução ser encontrada. Às vezes, o “quase” é usado para expressar uma condição que teria se realizado, mas não se concretizou. Exemplo: ele quase me enganou.

 O termo “quase” pode referir-se a algo que está no limite entre o possível e o impossível, entre o sucesso e o fracasso. O uso da palavra pode evocar sentimentos de frustração, quase realização ou quase perfeição. A ideia de “quase” também pode ser explorada no sentido existencial, como algo que é eternamente inatingível ou que permanece no reino do potencial. 

É uma palavra que tem presença marcante na literatura e na poesia, pois simboliza muitas vezes o limiar entre sucesso e fracasso, o desejo e a realização. Ela transmite a sensação de algo inacabado, de um anseio não plenamente satisfeito. 

Os exemplos literários e poéticos mostram que a palavra “quase” pode carregar camadas de significados, desde a frustração até a reflexão sobre a natureza humana e seus limites. 

No campo da ciência, o uso da palavra “quase” pode assumir diferentes conotações dependendo da disciplina, mas geralmente está relacionado à aproximação ou a um limite não alcançado. Na Física e na Matemática, o termo “quase” é frequentemente usado em contextos relacionados a limites e aproximações. Por exemplo: quando uma quantidade está muito próxima da outra, mas não exatamente igual, o “quase” é útil para indicar essa ideia de aproximação sem ser exato.

Em geral, nas ciências, o “quase” serve para indicar que algo está em um limite de transição, uma situação que está em constante mudança ou perto de atingir um estado desejado, mas que ainda não chegou lá.  Isso é útil para descrever fenômenos que são dinâmicos e frequentemente em processo de transformação. 

Na poesia, o “quase” é utilizado com uma liberdade ainda maior. 

A ideia de “quase” como algo que está entre o além e o aquém foi brilhantemente traduzida no poema “Quase”, de Mário de Sá-Carneiro, poeta português, contemporâneo e amigo de Fernando Pessoa. 

Um pouco mais de sol – eu era brasa,

Um pouco mais de azul – eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe de asa....

.....................................................

O grande sonho – ó dor! Quase vivido....

Quase amor, quase o triunfo e a chama,

Quase o princípio e o fim – quase a expansão...

Mas minh”alma tudo se derrama....

Entanto nada foi só ilusão! 

Nesse poema, o adverbio “quase” traduz a sensação angustiante de não haver conseguido ter (ou ser) algo por muito pouco, por um golpe de asa.    

Clarice Lispector é uma autora que frequentemente utiliza a ideia do “quase” para discutir a condição humana e a busca por significado. Em “A Hora da Estrela”, a personagem Macabéa está sempre à beira de algo, mas nunca o alcança. O “quase” aqui carrega uma conotação de limitação e destino imutável. 

Ela quase não sentia a vida, mas ao mesmo tempo não podia fugir dela”.

Na música, temos alguns exemplos tais com a canção “Quase fui lhe procurar” de Roberto Carlos, onde encontramos:

Eu pensei em lhe falar

Quase fui lhe procurar

Mas evitei, e aqui fiquei

Sofrendo tanto a lhe esperar......

A canção traduz a angústia de alguém que, após um término, hesitou em procurar a pessoa amada e agora sofre com a ausência e a incerteza do futuro. 

Na música “Quase sem querer”, cantada pela banda Legião Urbana, 1986, encontramos:

Já não me preocupo se eu não sei por que

Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê  

Eu sei que você sabe, quase sem querer

Que eu vejo o mesmo que você

Nessa canção, a palavra “quase” é usada para expressar a ideia de algo que acontece sem ser planejado, como os sentimentos que surgem de maneira espontânea. É uma reflexão sobre os encontros e as escolhas da vida que se aproximam da perfeição, mas nunca a atingem completamente. 

Em resumo, a palavra “quase” carrega uma carga poética e emocional muito forte.  Ela sugere aproximação, tentativa, frustração, potencial não realizado ou algo inacabado. É por isso que resulta muito usada em metáforas literárias, títulos de músicas e em poemas.

O que diria o leitor?



[1] Físico e Professor

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