DESCOBERTAS DE UMA GOTA DÁGUA
DESCOBERTAS DE UMA GOTA DÁGUA
José Fernandes de Lima[1]
Num dia ensolarado, num lago tranquilo, uma gota dágua, que se encontrava numa profundidade de aproximadamente um metro e meio, sentiu uma vibração, uma série de conexões com o mundo ao seu redor. Percebeu que a sua influência era limitada a um raio muito pequeno; que as moléculas localizadas naquele volume restrito se comportavam aparentemente de forma solidária, pareciam pertencer a um único time. A interação entre elas era diferente da interação com as outras que ficavam fora do seu raio de configuração.
Pode-se dizer que nossa amiga gota viveu um momento de epifania quando passou a identificar a sua individualidade. “Eu só sou eu até aquele ponto. De lá para diante, não sou mais eu”.
Tão logo ela tomou consciência da sua finitude espacial, começou a perceber que as suas moléculas estavam em constante movimento e que o conjunto como um todo estava sujeito a uma pressão devida à presença de moléculas não pertencentes ao seu grupo e localizadas ao redor das mesmas.
Diante dessa constatação, arriscou deslocar-se através do lago, numa espécie de exploração científica. Deslocou-se um pouco para o fundo e verificou que a pressão aumentava, tornando a mobilidade de suas moléculas mais reduzida. Quando experimentou subir em busca da superfície, verificou que a pressão diminuía e, como consequência, as suas moléculas podiam ficar mais agitadas.
Sentiu um certo temor, mas continuou subindo, pois queria saciar sua curiosidade.
Quando chegou à superfície, verificou que algumas moléculas, de tão agitadas que estavam, saíam até do lago e passavam a flutuar no ar, provocando aquele fenômeno que as pessoas costumam chamar de evaporação.
Na sequência desses resultados, a gota passou a prestar atenção no número de suas moléculas e a refletir sobre o seu tamanho. “Será que vale a pena aumentar de volume?” “Será que vale a pena crescer?”
Em pouco tempo, verificou que o crescimento poderia trazer a dificuldade de administrar os seus limites. Quanto maior o número de moléculas, mais difícil ficava administrar o conjunto e maior se tornava a possibilidade de ser dividida ou desmanchada.
Quanto mais a gota aprendia sobre o ambiente ao seu redor, mais complicados pareciam ser os seus desafios.
Era preciso manter unido aquele grupo de moléculas. Se fossem apenas cinco ou seis, seria fácil, bastaria uma ordem unida e tudo estaria resolvido. No entanto, o número de moléculas era enorme. Ela suspeitava que esse número era da ordem de bilhões de bilhões.
Para verificar se ela estava exagerando ou não, podemos fazer aqui uma estimativa.
Vamos considerar uma gota de 0,05 mililitros (Uma gota padrão, daquelas que são necessárias 20 para formar um mL).
Sabemos que um mol de uma dada substância contém 6,02 X 1023 moléculas. Um mol de água equivale a 18 gramas. Logo, 1 grama equivale a (6,02/18) X 1023 moléculas. E 0,05 mg equivale a [6,02/(18X20)] X1023moléculas, ou seja, o número de moléculas na tal gota equivale a 1670.000.000.000.000.000.000 moléculas, precisamente 1,67 sextilhões de moléculas.
Quando olhamos para esse número, podemos facilmente nos convencer que os desafios eram enormes.
Pelas notícias mais recentes que nos chegam, ela evoluiu bastante, adquiriu plena consciência da sua individualidade e da sua conexão com o mundo. Aprendeu que a forma mais eficiente de se manter inteira é interagir solidariamente com as vizinhas.
Tendo superado os primeiros desafios, ela empolgou-se e resolveu buscar novos conhecimentos. Consta que, nesse momento, está dirigindo sua atenção para uma réstia de luz que penetra no sentido do fundo do lago. Já descobriu que a tal réstia pode provocar o aparecimento de cores variadas e até simular as cores do arco-íris.
Segue curiosa.
Nunca havia pensado nas aventuras de uma gota... aquela "gota d´agua" ganhou um novo significado :)
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