SOBRE A PRECISÃO DOS MAPAS

SOBRE A PRECISÃO DOS MAPAS

 

José Fernandes de Lima[1]

 

Eu gosto de mapas. Quando eu era pequeno, ficava encantado com os mapas que via na minha escola. Depois de adulto, passei a comprar mapas para o uso dos meus filhos. As paredes dos quartos deles eram enfeitadas com mapas. Comprei um pequeno globo terrestre para minha neta, mas ainda não tivemos a oportunidade de brincar juntos. Em geral, as crianças gostam de mapas e se divertem descobrindo a localização dos países e constatando que uns ficam muito mais distantes do que outros. 

Não sei o quanto as pessoas ainda usam essas coisas, mas sei que hoje é facílimo encontrar um mapa no computador ou no smartphone. É só entrar no google e pronto. Se você vai viajar e deseja saber o caminho, basta ativar o aplicativo e ele fornece, além do mapa, os caminhos mais curtos.

De acordo com o dicionário Aurélio, mapa é um desenho representativo de um país, ou uma região. É sinônimo de carta, relação, lista e catálogo. É uma representação visual de uma região.

A definição contida no dicionário parece restrita, pois, na prática, nós falamos de mapa de uma forma mais ampla. Falamos, por exemplo, de mapa mental, mapa astral e outros tantos. Falamos também de mapa geomorfológico, climático, político, demográfico, histórico, rodoviário, topográfico, hidrográfico e mapa de risco. 

Os seres humanos constroem mapas desde a idade antiga. Os primeiros mapas eram construídos a partir das memórias dos viajantes. O indivíduo visitava um determinado lugar e quando voltava fazia um desenho para explicar como foi que conseguiu chegar até lá ou mesmo para lembrar os caminhos, no caso de querer retornar. É claro que esses primeiros mapas eram imprecisos. Atualmente, os mapas são feitos com base em dados de satélites, os quais podem ser obtidos com grande precisão. 

No período das grandes navegações, a construção de mapas desempenhou um papel fundamental para o sucesso dos novos descobrimentos. Foi necessário melhorar a precisão dos mapas para garantir que as navegações fossem feitas com maior segurança. 

A ciência e a arte de confeccionar mapas é chamada de cartografia. Ela comporta um conjunto de técnicas que são utilizadas para representar os espaços terrestres em um plano de forma fidedigna. 

Os principais elementos registrados no mapa são o título, a escala, a legenda e a orientação e a projeção cartográfica. O título diz respeito ao assunto que se deseja representar naquele mapa. A escala informa quantas vezes o tamanho real é maior do que aquele medido no mapa.

Há a expectativa de que o mapa representa o território com o máximo de fidelidade.

No entanto, convém ter em mente que essa fidelidade possui limites. O mapa não é o território, em si. Um mapa não representa tudo de um território. 

Os mapas tentam descrever relevos diversos em superfícies planas. Quando desejamos fazer um mapa de uma superfície terrestre mais extensa, na qual a curvatura da Terra não pode ser desprezada, surge o problema da distorção. A distorção resulta da dificuldade de se representar uma superfície esférica como uma superfície plana. 

Outros obstáculos que se opõem à confecção do mapa perfeito são o valor da escala e a profusão de detalhes.

Conta-se que um imperador encomendou a seus cartógrafos que fizessem um mapa de seus país. O mapa tinha que ser perfeito. 

Os cartógrafos mediram todos os locais e fizeram um rascunho. Um deles comentou que faltavam alguns detalhes e, por causa disso, o mapa foi aumentado. De detalhe em detalhe e de acréscimo em acréscimo, o mapa foi aumentando até que se ficou exatamente do tamanho do império. 

A historinha acima é uma modificação do conto “Sobre o Rigor da Ciência”, de Jorge Luis Borges, publicado em 1946, cujos termos são: “Naquele império, a arte da cartografia logrou tal perfeição que o mapa de uma única província ocupava toda uma cidade, e o mapa do império, toda uma província. Com o tempo, esses mapas desmedidos não satisfizeram mais e os Colégios de Cartógrafos levantaram um mapa do império, que tinha o tamanho do império e coincidia pontualmente com ele.

Menos dedicadas ao estudo da cartografia, as gerações seguintes entenderam que esse dilatado mapa era inútil e não sem impiedade o entregaram às inclemências do Sol e dos invernos.”

Esse conto é muito utilizado para discutir a relação entre representação e realidade. 

Ele leva a conclusão que: quando o mapa passa a coincidir com o território, ele deixa de ser uma representação e perde o valor. 



[1] Físico e Professor

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