SOBRE O PRESTÍGIO DO REINO ANIMAL

SOBRE O PRESTÍGIO DO REINO ANIMAL

 

José Fernandes de Lima[1]

 

Quando eu era criança, as escolas ensinavam que os seres vivos podiam ser divididos em dois grupos: o reino animal e o reino vegetal. Os vegetais eram considerados mais simples e os animais mais sofisticados. Falavam dos animais vertebrados e invertebrados e mostravam que o homem estava no topo da sofisticação. O modelo adotado falava da existência de uma cadeia hierárquica entre os seres vivos de tal modo que as bactérias nem apareciam na foto.

Hoje em dia, quando a gente olha os livros didáticos, mesmo da escola básica, o modelo já está bem modificado.

Os livros didáticos de hoje falam que os seres vivos podem ser classificados em cinco reinos.

A nova classificação é feita com base em novos conceitos e novas perguntas.

Esse ser é unicelular ou pluricelular? É eucarionte ou procarionte? Tem membrana ou não tem? Esse ser é autótrofo ou heterótrofo? Dito de outra maneira, esse ser produz o seu próprio alimento ou precisa se alimentar de outros seres vivos? As células desse ser têm paredes celulares ou não?

Com base nas respostas obtidas para essas perguntas, os cientistas classificam os seres vivos em três domínios: Archea, Bctéria e Eukarya, sendo esses três subdivididos em cinco reinos: o antigo reino Monera (hoje subdividido em dois domínios que englobam os grupos Archea e Bactéria), o reino Protista, o reino Fungi, o reino Plantae, o reino animal (também chamado de Animalia ou Metazoa).

Os seres classificados como animais são multicelulares, suas células são eucarióticas e eles são heterótrofos, ou seja, não produzem seus alimentos.

O reino das plantas é composto de organismos autotróficos, ou seja, produzem seus próprios alimentos, através da fotossíntese. São organismos multicelulares e possuem células eucarióticas. As paredes celulares são formadas de celulose.

É importante salientar que as algas, embora em sua maioria autotróficas, não pertencem exclusivamente ao reino das plantas. As algas constituem um grupo diverso e com diferentes histórias evolutivas. Algumas espécies de algas possuem características mais próximas de bactérias, outras de plantas e algumas pertencem ao reino dos Protistas, juntamente com os protozoários. Os protozoários são seres eucarióticos, unicelulares e heterótrofos, ou seja, não produzem seus alimentos e dependem exclusivamente de fontes externas de nutrientes previamente produzidos.  Muitos deles são aquáticos e outros vivem dentro do corpo de outros seres vivos, inclusive dentro do corpo humano. Os protozoários são bastante importantes para nós humanos por serem a causa de várias doenças. Um protozoário muito conhecido é a ameba. A Entoameba coli (não confundir com a bactéria Escherichia coli) vive no intestino grosso. A Entamoeba gengivalis vive na boca. A Entoameba histolytica também vive no intestino e é ela que provoca a amebíase.

O reino Fungi é formado pelos fungos, pelas leveduras, cogumelos e os bolores e embora bastante importante no nosso dia a dia, vide o papel essencial em processos alimentícios, por exemplo no pão e na cerveja, ainda carece de mais atenção e análises científicas para entendermos a sua intrigante evolução. 

O reino Monera engloba todos os organismos procariontes existentes, ou seja, todos os organismos que não apresentam núcleo delimitado por membrana nuclear. Todos os representantes desse grupo são unicelulares e podem ser autotróficos ou heterotróficos. Esse reino é representado pelas bactérias e archeas (arqueias).

À medida que as outras formas de vida vão se tornando mais conhecidas, nós verificamos que a contribuição do reino animal para o total de vida na Terra é menor do que se pensava no passado. 

A medição da distribuição da biomassa (peso do carbono) sobre a superfície da Terra estimou uma biomassa total de 550 gigatoneladas de carbono. (uma gigatonelada corresponde a um bilhão de toneladas).

As plantas contribuem com 440 gigas, as bactérias com 71 gigas e os fungos com 11, enquanto os animais, como um todo (insetos, peixes, pássaros, moluscos...), contribuem com apenas 2 gigas.  

Os humanos pesam apenas 0,06 gigatoneladas. Em outras palavras, contribuem com apenas 0,01% da biomassa da Terra. 

Será que, apesar de tudo isso, eu posso continuar me sentindo importante? 

 



[1] Professor Emérito da UFS, Presidente da Associação Sergipana de Ciência, membro da Academia Sergipana de Educação. 

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