SOBRE ALGORÍTMOS

SOBRE ALGORÍTMOS

 

José Fernandes de Lima[1]

Os algoritmos são fundamentais na computação e constituem a força motriz silenciosa por trás de muitas tecnologias e serviços que utilizamos diariamente. Eles estão presentes em diversas aplicações do cotidiano, como sistemas de navegação, plataformas de comércio eletrônico, segurança bancária e mídias sociais. Por exemplo, são indispensáveis para o funcionamento dos mecanismos de pesquisa, pois ajudam a filtrar grandes quantidades de informações na internet para encontrar os resultados mais relevantes para as consultas dos usuários.

Embora pareça misterioso, em sua essência, o algoritmo é apenas uma sequência de regras, racionais e operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas. Um algoritmo pode ser algo tão simples quanto as instruções para ir de casa ao trabalho, para encontrar um produto num supermercado ou para trocar o pneu do carro. 

O algoritmo para trocar o pneu de um carro é uma sequência de passos como a sequência a seguir: parar em local seguro e sinalizar, afrouxar os parafusos, levantar o veículo com o macaco, remover os parafusos e o pneu furado, colocar o estepe, apertar os parafusos manualmente e depois com a chave de roda em “X”, baixar o veículo e fazer o aperto final dos parafusos. 

Na ciência da computação, um algoritmo é um conjunto de passos para que um computador possa realizar uma tarefa. Ele consiste em um conjunto estruturado de instruções, processando dados de entrada, realizando operações e produzindo uma saída com um resultado útil. Quanto mais sofisticada for a sequência de instruções, mais potente pode ser o algoritmo.

É importante entender que os algoritmos só adquirem os altos desempenhos mostrados porque por trás deles há o trabalho de uma equipe de especialistas e vultosos investimentos feitos pelas companhias interessadas.

Plataformas como Instagram, Tik Tok, You Tube, Twitter e Facebook fazem parte do nosso cotidiano, moldando não apenas a forma como nos comunicamos, mas também como pensamos, consumimos e nos posicionamos no mundo. Por trás dessas plataformas, existe um mecanismo invisível e extremamente poderoso: o mecanismo dos algoritmos.

Nas mídias sociais, os algoritmos desempenham um papel fundamental. São eles que definem quais conteúdos aparecem no seu feed (fluxo ou lista de conteúdos digitais mostrados para você na sua rede social). Esses sistemas de recomendação analisam uma infinidade de dados, incluindo interações, o conteúdo que você curte, as pessoas que você segue, tempo de visualização, comentários, compartilhamentos, localização, histórico de busca e até o ritmo com que você rola a tela.

Com base na análise de padrões de comportamento do usuário, as plataformas constroem um perfil comportamental extremamente detalhado sobre cada indivíduo. O algoritmo então seleciona os conteúdos mais propensos a manter a atenção, pois o objetivo principal das redes é maximizar o engajamento e garantir que o usuário passe o máximo de tempo na plataforma, já que isso gera mais dinheiro. Embora a personalização pareça positiva — por recebermos sempre o que queremos — esse poder pode facilmente se tornar um mecanismo de manipulação.

Os algoritmos das mídias sociais têm uma influência profunda e multifacetada na vida das pessoas, transformando a maneira como interagimos, consumimos informação e percebemos o mundo.

Um dos efeitos colaterais desse uso é a criação de bolhas informacionais. Como os sistemas tendem a mostrar conteúdos que reforçam as preferências e crenças do usuário, limitam a diversidade de opiniões, expondo o indivíduo a uma visão limitada do mundo. Esse ciclo de reforço positivo pode limitar o diálogo e a convivência com opiniões divergentes, ampliando tensões e conflitos. A polarização social e cultural é, em parte, alimentada por essa lógica algorítmica, que promove a formação de bolhas ideológicas.

Além disso, ao promover o engajamento a qualquer custo, os algoritmos muitas vezes priorizam conteúdos polêmicos, emocionais e extremistas, pois estes geram mais reações. Isso pode manipular decisões e comportamentos dos usuários, influenciando desde preferências de consumo até opiniões políticas, muitas vezes sem que eles percebam.

O uso contínuo das redes sociais, incentivado por esses algoritmos, tem sido associado a problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão, baixa autoestima e dependência emocional. A busca incessante por validação social através de curtidas e compartilhamentos, especialmente entre adolescentes, cria um ambiente de pressão constante para manter uma presença digital idealizada.

Essa dinâmica gerou a denominada ansiedade algorítmica, um conceito que descreve a pressão constante para manter uma presença online atraente baseada em interações digitais. Esse ciclo reforça a dependência digital, pode agravar distúrbios do sono, aumentar a sensação de exclusão e bullying, e promover uma percepção distorcida da própria imagem devido ao conteúdo altamente filtrado e idealizado exibido nas redes.

Neste cenário, o papel das escolas é fundamental. A implementação da Educação Digital Crítica no currículo escolar é essencial para preparar os estudantes para o uso responsável das tecnologias digitais. É crucial ensinar os alunos sobre o funcionamento dos algoritmos, explicando como eles recomendam conteúdos com base em comportamento anterior, para que possam fortalecer o pensamento crítico e evitar a aceitação passiva das informações.

As instituições educativas devem ajudar os alunos a reconhecer armadilhas e a influenciar os algoritmos (diversificando fontes e usando filtros), incentivando debates sobre ética, privacidade, vieses algorítmicos e justiça digital. Capacitar os docentes e manter um diálogo constante entre educadores, alunos e famílias são passos centrais para formar usuários críticos e responsáveis na era digital.

 



[1] Físico e Professor

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