SOBRE AS CORES DOS GATOS E OUTROS MISTÉRIOS
SOBRE AS CORES DOS GATOS E OUTROS MISTÉRIOS
José Fernandes de Lima[1]
A pelagem dos gatos pode apresentar uma grande variedade de cores, incluindo preto, branco, cinza, laranja e marrom. Os padrões podem ser sólidos, tigrados, malhados, pontilhados ou manchados. Gatos podem mudar de pelagem conforme as estações do ano. Eles tendem a perder mais pelos na primavera, ou no outono, quando a temperatura muda. A pelagem também serve para regular a temperatura corporal.
O famoso “Garfield”, criado pelo quadrinista Jim Davis, tem a cor de laranja. O gato de botas que aparece no filme Shrek também é amarelo/laranja.
O mistério por trás da cor laranja dos gatos foi desvendado em uma pesquisa recente, publicada na Current Biology, volume 35, de junho de 2025.
Os pesquisadores identificaram o gene responsável pela pelagem laranja de gatos. Essa descoberta vem resolver um enigma genético que intrigava cientistas há mais de 60 anos.
Dois estudos diferentes descobriram que a mutação está relacionada ao gene Arhgap36, localizado no cromossoma X, e revelaram uma nova via molecular que regula a produção de pigmentos nos pelos. O gene Arhgap36 apresenta uma mutação que não altera diretamente sua proteína, mas influencia a quantidade de RNA produzida pelas células responsáveis pela coloração da pele, os melanócitos. A descoberta foi validada pela análise de amostra de 188 gatos em um dos estudos, enquanto outro encontrou o mesmo padrão em 258 genomas de felinos ao redor do mundo.
Esses estudos reforçam uma informação já conhecida: Quando vemos um gato bicolor (preto/laranja) ou tricolor (preto/laranja/branco), ou algumas de suas versões diluídas, podemos afirmar que se trata de uma fêmea.
Já os gatos machos são laranjas ou pretos (só tem um cromossomo X), podem ser preto/branco, mas não podem ser preto/laranja nem tricolores, a menos que sejam portadores de um distúrbio cromossômico equivalente à síndrome de Klinefelter (doença genética caracterizada pela presença de um cromossomo X extra). A taxa de machos tricolores, devido a síndrome de Klinefelter, é de aproximadamente 1 para 1000.
A discussão sobre as cores dos gatos não se esgota na biologia. Algumas pessoas, quando querem sugerir que, na falta de clareza, as diferenças entre as coisas se tornam indistinguíveis ou perdem importância, utilizam o provérbio “À noite, todos os gatos são pardos”.
O antigo mandatário chinês Deng Xiaoping produziu uma frase de efeito quando disse: “não importa a cor do gato, o que importa é se ele sabe caçar ratos”. Com essa ideia, o líder chinês defendia uma teoria econômica pragmática que enfatiza que o sucesso de uma política ou ação deve ser avaliado pelos resultados práticos, e não por ideologias ou aparências.
Para além de fofinhos e coloridos, os gatos carregam outros mistérios. Tanto isso é verdade que a arte e a literatura fazem uso da imagem dos bichanos para contar histórias e passar mensagens.
Na ciência, por exemplo, temos o famoso “Gato de Schrodinger”, inventado pelo físico Erwin Schrodinger para discutir os fenômenos da física quântica.
A literatura segue o mesmo caminho. “O Gato que amava livros”, de Sosuke Natsukawa, “Vou te receitar um gato”, de Syou Ishida e “Relatos de um gato viajante”, de Hiro Arikawa são três livros recentes, de autores japoneses, que falam sobre gatos.
No teatro, temos exemplos significativos. O musical Cats é uma composição de Andrew Lloyd Webber, que estreou em Londres em 1981 e se tornou um dos espetáculos mais duradouros e icônicos da Broadway, tendo ficado em cartaz por 18 anos. Baseado em uma série de poemas de T. S. Eliot, o musical conta a história de gatos que se reúnem uma vez por ano para que seu líder escolha um deles para subir a um lugar especial, uma metáfora para uma nova vida ou renascimento.
A música “Memory”, ponto alto do musical, é cantada pela gata Grizabella que lembra com nostalgia seu passado glorioso e expressa o desejo de um recomeço. Não há como não se emocionar.
O espetáculo “Os Saltimbancos” é uma peça de teatro infantil inspirada no conto “Os Músicos de Bremen”, dos irmãos Grimm. A história narra a aventura de quatro animais – um jumento, um cachorro, uma galinha e uma gata – que, maltratados por seus donos, decidem fugir para a cidade e formar um grupo musical. A versão em português foi adaptada por Chico Buarque a partir da obra original dos italianos Sérgio Bardotti e Luis Enriquez Bacalov.
A personagem A gata representa os artistas ou a classe criativa. É um personagem que pode transmitir mistério e sensualidade, além de um espírito livre e independente. A música “A história da Gata” se destaca pelo estribilho:
Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora, senhoria
Felino, não reconhecerás
Os exemplos acima mostram que, além de coloridos, fofinhos e independentes, os gatos são portadores de mistérios.
O amigo Xico me encaminhou o conto "Orientação dos Gatos" de Julio Cortazar que descreve a relação do narrador com sua esposa e seu gato. Muito bonito.
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