EPIGENÉTICA
EPIGENÉTICA
José Fernandes de Lima[1]
Nós aprendemos que tudo está devidamente escrito nos nossos genes e que a posição das “letras” do DNA determina as nossas características.
As moléculas do DNA das nossas células contêm as instruções para criar um corpo humano. Todas as peças-chave para o metabolismo celular e para dirigir as funções do organismo estão codificadas numa cadeia de nucleotídeos com quatro elementos: adenina, citosina, guanina e timina. Mas o que nem sempre foi dito é que há outros fatores envolvidos.
A cadeia de DNA não é exatamente igual em todas as pessoas, apesentando pequenas alterações denominadas mutações que conferem variabilidade, ou seja, permitem que todos os membros de uma mesma espécie sejam únicos.
Porém, as mutações não são as únicas alterações do DNA.
Para se adaptar a um ambiente em mudança, é necessário um nível superior de organização que permita regular como e quando determinados genes devem ser lidos e traduzidos. Esta regulação é possível graças à epigenética, ou seja, graças a alterações em moléculas relacionadas com o DNA, mas que não são mutações.
As alterações epigenéticas não modificam a ordem da sequência genética. A epigenética investiga como fatores externos e comportamentais podem ativar ou desativar genes sem alterar o código genético em si.
A explicação para esse fato pode ser dada mediante a seguinte analogia: O DNA é um livro, um manual de instruções. Todos os seres humanos têm o mesmo livro, mas de edições diferentes.
Desse modo, os livros têm pequenas alterações nas palavras, por exemplo no capítulo OLHO pode estar escrito olhos castanhos no lugar de olhos azuis. Essas alterações de palavras correspondem às chamadas mutações. Dependendo da “palavra” mudada, a mutação pode resultar em alguma doença genética.
Existem, no entanto, outras maneiras de modificar a mensagem de um livro sem ser através da troca de palavras. Por exemplo: podemos sublinhar algumas palavras ou podemos colar algumas páginas. Nesses casos, não foi mudada nenhuma palavra do livro, mas o resultado da leitura será diferente. É isto que acontece no caso da epigenética.
O motivo da epigenética é: todas as células do nosso corpo têm as mesmas instruções no seu DNA, mas interpretam-nas de maneira diferente. Os neurônios ativam os genes necessários para realizar as funções de neurônio e as células cardíacas ativam as funções cardíacas.
Essas diferenças são possíveis graças a alterações químicas nos nucleotídeos, em algumas proteínas que acompanham o DNA e graças a modificação de moléculas conhecidas como microRNA. Nos seres vivos com elevados níveis de organização, a epigenética é a responsável por tornar as células especializadas.
Alguns estímulos ambientais também podem provocar alterações epigenéticas e ativar ou desativar determinados genes ao longo do tempo. É por essa razão que dois gêmeos univitelinos são praticamente idênticos no início e vão se distinguindo com a idade.
Nas últimas décadas, foi observado que, tal como as mutações, algumas alterações epigenéticas também podem ser transmitidas para os descendentes. Esse fato é fundamental porque a alteração da epigenética pode nos tornar predispostos a determinadas doenças autoimunes ou mesmo ao câncer.
É importante destacar que: diferentemente das mutações, as alterações epigenéticas são reversíveis, mediante o uso de medicamentos.
As alterações epigenéticas mais habituais são a metilação do DNA, a modificação das histonas e dos microRNA. No DNA, a adição de um grupo metil (CH3) aos nucleotídeos adenina ou citosina transforma-os em metiladenina e metilcitosina. Quando as citosinas são metiladas, o gene costuma ser desativado. Isso significa que a metilação permite regular a atividade genética. Quando precisa ativar ou desativar genes, a célula conta com enzimas denominadas metiltransferase.
O prefixo “epi” vem do grego e significa “sobre” ou “acima de”. Isso significa dizer que a epigenética se refere a fatores “sobre” ou “acima” da genética tradicional, que regulam a atividade dos genes sem mudar a sequência do DNA em si.
A epigenética é um campo científico que tem crescido muito por oferecer respostas à interação entre a estrutura genética e o ambiente.
Graças a este campo de investigação, é possível propor o desenvolvimento de novas estratégias para reativar genes perdidos e combater determinadas doenças.
É um avanço fantástico.
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