SOBRE FOGOS DE ARTIFÍCIO
SOBRE FOGOS DE ARTIFÍCIO
José Fernandes de Lima[1]
Um espetáculo que já entrou para o calendário turístico de várias cidades brasileiras é a queima de fogos de artifício realizada na noite de 31 de dezembro-madrugada de primeiro de janeiro. O chamado show da virada ou festa da virada.
As prefeituras municipais promovem grandes shows artísticos que reúnem milhares de pessoas e, para marcar o exato momento da chegada do ano novo, fazem uma contagem regressiva e efetuam grandes queimas de fogos que chegam a durar mais de 15 minutos.
A montagem desses espetáculos é contratada com empresas especializadas que possuem grande conhecimento no ramo e garantem o sucesso do evento. Além da folia promovida pela própria multidão, o que chama a atenção dos presentes é a sequência das explosões e, sobretudo, a variedade de luzes e de cores produzidas com as explosões.
Essas manifestações terão que sofrer modificações, pois no último dia 3 de outubro, a Comissão de Educação e Cultura do Senado aprovou o projeto de Lei (PL no 5/2022) que proíbe a fabricação, o armazenamento, a importação, a comercialização, a distribuição, o transporte e o uso de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos que produzam estampidos. O projeto que será encaminhado para a Comissão de Constituição e Justiça visa, segundo os seus proponentes, cuidar das pessoas sensíveis ao ruído e proteger os animais.
O veto não se aplica a fogos sem ruído, que produzem apenas efeitos visuais.
Um modelo utilizado para explicar os fenômenos luminosos afirma que a luz é uma onda eletromagnética com frequência específica capaz de impressionar os nossos olhos. A sensação que temos das cores resulta da tradução feita pelo nosso cérebro quando nossos olhos recebem uma luz de determinada frequência. Quando se afirma que um objeto tem uma determinada cor é porque ele é capaz de emitir ou refletir ondas luminosas cuja frequência corresponde ao que o nosso cérebro identifica como sendo essa cor.
As cores, desse modo, não são nem um fenômeno físico puro nem uma construção humana isolada. A sensação de cor reside nos sentidos, mas corresponde à absorção, pelos nossos olhos, de uma luz de comprimento de onda bem determinado.
Átomos e moléculas podem emitir luz ao receberem energia, liberando fótons em determinados comprimentos de onda específicos. As energias desses fótons correspondem à diferença de energia dos níveis energéticos dos elétrons. O conjunto de níveis energéticos dos elétrons de um determinado elemento químico é único, de modo que o padrão de cores que ele emite serve como uma identificação do material utilizado.
O espectro de emissão luminosa funciona como se fosse uma impressão digital de cada elemento químico. É através da identificação desse padrão que são feitas muitas análises químicas.
O padrão espectral é, em geral, complexo, mas quando visto a olho nu pode mostrar a predominância de uma determinada cor. É o que constatamos quando aquecemos determinados elementos. Por exemplo: o aquecimento do Sódio resulta na emissão de uma forte luz amarela. São também conhecidas as emissões vermelhas decorrentes do Lítio, a verde do Cobre e o azul do Potássio.
A queima de fogos de artificio é uma atividade muito antiga, foi inventada milhares de anos antes de Cristo.
Os primeiros fogos de artifício surgiram quando o homem descobriu que pedaços de madeira, como bambus verdes, explodiam” quando colocados diretamente na fogueira junto com outros materiais.
Gostaram do efeito e passaram a utilizar essa técnica para produzir maior animação nas reuniões festivas.
Mais adiante, esses fogos foram incrementados quando se descobriu que o uso da pólvora provocava explosões bem maiores.
A pólvora foi fabricada pela primeira vez na China, por volta do ano 1000 antes de Cristo e é o resultado de uma mistura de carvão, enxofre e nitrato de potássio, também conhecido como salitre.
Durante muito tempo, foi usada na mineração e na construção de estradas e ainda hoje continua sendo usada para fabricação de projéteis para armas de fogo.
A intensidade das explosões dos fogos depende da quantidade de pólvora utilizada enquanto os elementos luminosos dependem da presença de determinados elementos químicos que são adicionados à mistura.
A escolha dos elementos químicos depende das cores que se quer e, como não poderia deixar de ser, do quanto se deseja gastar com a compra dos ingredientes.
Os fabricantes dos fogos conhecem esses mecanismos e procuram combinar adequadamente todos esses ingredientes para que, a cada ano que passa, o espetáculo se torne mais impressionante. É fácil constatar que a queima de fogos de artifício é uma atividade que combina a tradição com ciência e tecnologia.
O leitor pode verificar a afirmação acima no filme “Uma Escada para o Céu”, que descreve o trabalho do artista Cai Guo-Qiang em vários eventos internacionais e mostra a sua obstinação para produzir o efeito de uma escada de fogo de 500 metros de altura, em direção ao céu.
Por tudo isso, sempre que o leitor apreciar ou relembrar da beleza admirada nesses shows pirotécnicos pense que presenciou um caso típico de atividade em que a ciência e a tecnologia contribuem para reforçar a tradição.
E, ao ver aquela luz prateada, lembre que pode ser devida a presença de Magnésio.
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