EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO

EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO

 

José Fernandes de Lima[1]

 

O ano de 2023 chega com a mudança de governo e abre possibilidades para a apresentação de novos planos para o país.  

No âmbito federal, o movimento de transição sinalizou para a retomada do desenvolvimento econômico, alicerçado no tripé ciência, tecnologia e inovação.

Ao lado do trabalho das equipes técnicas da transição, as sociedades científicas produziram documentos que sugerem a reestruturação dos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, com vistas a possibilitar que essas instituições possam contribuir de forma mais eficiente para formação de mão de obra qualificada para o crescimento econômico do país. Estudos apontaram a necessidade de recuperação do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, visto que este teve uma queda de 54% entre os anos de 2019 e 2022.

As sociedades científicas lembram que a Frente Ampla eleita para o governo federal se comprometeu com o resgate da CT&I, da educação e da saúde. Lembram que o discurso vencedor prometeu recuperar a soberania e a sustentabilidade do país e a promoção do crescimento econômico, por meio de um novo modelo de desenvolvimento, baseado na ciência e tecnologia. Destacam que além da contribuição para o desenvolvimento econômico, a CT&I deve ser usada para solucionar grandes problemas da sociedade.

 

É sabido que a produtividade econômica pode ser alavancada pela tecnologia à medida que esta permite reduzir o tempo e o esforço necessários para a produção de bens e serviços. Nesse sentido, é possível afirmar que o desenvolvimento do país depende da sua capacidade de inovar que, por sua vez, depende da geração de conhecimentos. Conscientes dessa verdade, os países mais avançados investem continuamente em educação e ciência. 

A produção de conhecimentos científicos requer tempo e amadurecimento. Por esse motivo, cabe alertar que, além da recuperação do orçamento de ciência e tecnologia, é necessário construir um plano de longo prazo, definidor das intenções do país. 

 

O mesmo caminho apontado para o governo federal deve ser seguido pelos governos estaduais. Nessa esfera administrativa, também é necessário planejar.

 

Para que o debate sobre o desenvolvimento estadual prospere, o Estado necessita atentar para as mudanças tecnológicas que estão em curso nos diversos recantos do globo. Algumas delas, aparentemente distantes do senso comum, são responsáveis por alto percentual de recursos financeiros gerados nos países mais ricos. Nos Estados Unidos, por exemplo, um percentual significativo do Produto Interno Bruto deriva de “objetos” gerados pelo uso da mecânica quântica, disciplina que ainda é pouco ensinada nas nossas escolas de educação básica.

 

Estados que possuem dimensões geográficas reduzidas necessitam, mais do que outros, investir na fabricação de produtos de maior valor agregado. Para se manter competitivo, o Estado necessita entender como se dão os novos processos de inovação e agregação de valor às mercadorias. Necessita entender que o desenvolvimento econômico atual está fortemente associado com os investimentos em ciência e educação.

No curto prazo, é compreensível que um governo recém-empossado continue valorizando as indústrias tradicionais já instaladas no Estado. Porém, se desejar avançar, não poderá se dar ao luxo de desconhecer as principais atividades econômicas que prosperam no mundo contemporâneo. 

 

Para avançar com passos mais largos, o Estado necessitará entender que, para além das indústrias de modelo antigo, convém investir em novas fontes de riqueza que antes não eram entendidas como tal. 

São exemplos dessas novas fontes de desenvolvimento os empreendimentos relacionados com a energia limpa, a saúde, a educação, a cultura, a produção de alimentos e a preservação do meio ambiente.

É necessário entender que, para além das indústrias de modelo antigo, é necessário investir na atração de indústrias que guardem relação, por exemplo, com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, pois os consumidores dos países mais ricos estão convencidos de que podem impor esses objetivos mediante o uso do poder de compra. 

 

No caso de Sergipe, a vida dos novos governantes poderá ser facilitada se eles conseguirem mobilizar o time de cientistas qualificados residentes no Estado. Estes cientistas estão capacitados para contribuir para o crescimento econômico e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Sergipe já tem mais de 60 cursos de pós-graduação, que formam centenas de mestres e doutores por ano. Esses cursos proporcionam a formação de doutorado nas mais diversas áreas do conhecimento.

 

Para que a utilização dessa mão de obra altamente qualificada seja feita de forma eficiente, é necessário que o governo seja capaz de demandar os esforços desses profissionais. Para solicitar corretamente os tais serviços, os governantes precisam ser capazes de dizer o que querem para o Estado, no longo prazo. É a partir de sinalizações desse tipo que a comunidade cientifica se organiza e produz resultados sustentáveis. 

 

Resta torcer para que os novos governantes adotem essas ideias e tomem a iniciativa de convocar a comunidade cientifica. 

 



[1] Físico, Professor, Presidente da Associação Sergipana de Ciência

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