SOBRE LABIRINTOS

SOBRE LABIRINTOS

 

José Fernandes de Lima[1]

 

Quando uma pessoa parece perdida, vive uma dúvida constante, não sabe que caminho seguir, dizemos que ela caiu num labirinto. 

Os dicionários definem dois significados para a palavra labirinto. O primeiro refere-se a uma parte do ouvido interno responsável pelo equilíbrio. Labirinto é um sistema de canais e cavidades que formam o ouvido interno. O funcionamento incorreto desse sistema provoca o desequilíbrio e faz com que o indivíduo fique tonto. 

O outro significado, o mais comum, refere-se a um conjunto de percursos intrincados com a intenção de desorientar aqueles que o percorre.  De acordo com o dicionário Houaiss, labirinto é um lugar com muitas passagens intercruzadas que dificultam encontrar a saída.

Devido às suas características, o labirinto pode ser utilizado para diversão ou para reter as pessoas. 

O labirinto mais famoso é o chamado labirinto de Creta. Ele foi construído pelo arquiteto Dédalo a pedido do Rei Minos para aprisionar o Minotauro, figura mitológica que possuía corpo de humano e cabeça de touro. 

Teseu foi o primeiro indivíduo que conseguiu sair do labirinto de Creta, após matar o Minotauro. Ele conseguiu encontrar a saída graças ao uso de um fio fornecido pela sua namorada de nome Ariadne.

O labirinto pode ser visto como algo mais genérico do que um simples complexo de canais. Ele pode representar qualquer complexidade ou dificuldade encontrada pelo homem.

Jorge Luis Borges fala de um labirinto no conto “O jardim de veredas que se bifurcam”.

Em outro conto, a Biblioteca de Babel também é apresentada como um labirinto infinito.

A internet atual guarda semelhanças com a biblioteca de Babel descrita por Borges. 

A navegação na internet é semelhante ao passeio num labirinto. Você vai andando de página em página e depois de alguns passos não sabe mais retornar. 

Se você deseja retornar à página inicial, necessitará navegar deixando um rastro. De preferência, esse rastro deve ser mais eficiente do que aquele deixado por João e a Maria da história dos irmãos Grimm. É preciso evitar que os “pássaros” comam as migalhas de pão e destruam a marcação do caminho.

Alguns sites procuram facilitar a navegação quando trazem um botão que permite retornar diretamente para a página inicial. 

O Google possui um sistema que guarda as informações do histórico do usuário, incluindo as páginas visitadas.

Algumas pessoas não gostam desse sistema porque entendem que ele pode ser ruim para a privacidade.

A habilitação do histórico de buscas e localização do Google é uma configuração padrão, mas não é obrigatória. É possível desativar.

O sistema oferecido pelo Google funciona como uma espécie de fio de Ariadne. 

A expressão fio de Ariadne é, muitas vezes, usada para descrever um mecanismo de resolução de problemas. É um método que permite seguir pistas e encontrar caminhos para solução de problemas. 

O elemento chave para aplicação do método de Ariadne a um determinado problema é a criação e manutenção de um processo que permite regressar à posição anterior.

Usar o método do fio de Ariadne é diferente de usar o método de tentativa e erro. No método de tentativa e erro, a gente está em busca de uma solução desejada. No método do fio de Ariadne, facilitado quando se dispõe de processadores de dados, a ideia é testar inúmeras vezes até encontrar todas as soluções possíveis. 

O fio de Ariadne é, dessa forma, algo ou alguém que possibilita encontrar uma saída de uma situação difícil.

De um país que esteja em situação difícil, sem conseguir atender bem a população, sem controlar a inflação, sem juntar os seus habitantes num caminho de tolerância e colaboração, pode-se dizer que está em um labirinto. 

Quando isso acontece, costuma-se recomendar que siga rigorosamente o caminho da Constituição. 

 

Está aí um bom fio de Ariadne.     

 



[1] Físico, Professor, Presidente da Associação Sergipana de Ciência. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UMA TABELA ESPECIAL

SLOW FOOD

SOBRE A ARTE DE ADMIRAR O MUNDO