APRENDENDO E ENSINANDO COM A CONTA DE LUZ

APRENDENDO E ENSINANDO COM A CONTA DE LUZ

 

José Fernandes de Lima[1]

 

Na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANAEL aprovou os novos valores das bandeiras tarifárias de energia elétrica, com reajustes de até 64%. A notícia preocupou as pessoas que receiam ver suas contas aumentadas. Mesmo quando não demonstram interesse pelas tecnicalidades, os cidadãos se mostram preocupados quando percebem a possibilidade de haver aumento nas suas contas de luz sem a ampliação do consumo.

O interesse provocado pela notícia abre uma oportunidade para que as escolas utilizem esse tema como motivador para introdução de diferentes assuntos. A conta de luz pode ser um gancho para o ensino de determinados conceitos científicos e para a preparação para o exercício da cidadania.

São muitos os assuntos que podem ser trabalhados a partir da análise da conta de luz.

Uma boa maneira de iniciar esses estudos é através da verificação do consumo indicado na sua conta.

Para calcular o gasto mensal é necessário conhecer alguns conceitos. O primeiro é a potência. 

Potência é a quantidade de energia que o aparelho elétrico utiliza por unidade de tempo para realizar a sua tarefa. 

A unidade de medida de potência é o Watt (W). Os valores da potência variam de equipamento para equipamento. Um rádio tem uma potência de aproximadamente 1 Watt; uma lâmpada de LED tem uma potência de 9W; uma TV de LED tem uma potência de 120W, um chuveiro tem uma potência de 4500W e uma geladeira tem uma potência média de 300W.

Esses números indicam que se forem ligados durante o mesmo intervalo de tempo, um chuveiro consome muitas vezes mais do que um rádio ou uma lâmpada. 

As companhias elétricas cobram por energia consumida e medem esse consumo de energia em quilowatt-hora (kWh).

Se o leitor quiser calcular o consumo devido ao uso de um determinado aparelho elétrico (em kWh), basta dividir a potência do mesmo por 1000 e em seguida multiplicar o resultado pelo número de horas que ele fica ligado por dia e depois pelo número de dias. 

Por exemplo: Se a sua TV, que tem uma potência de 120W, fica ligada durante 5 horas por dia, durante os 30 dias do mês, seu consumo mensal devido ao uso dessa TV será dado por (120/1000) x 5 x 30 = 18 kWh.

Para saber o valor que terá que pagar é só descobrir quanto a empresa fornecedora cobra por cada kWh consumido e fazer nova multiplicação. 

O valor final a ser pago é um pouco diferente porque o preço da tarifa é apenas uma parte do custo total. Em geral, as contas são acrescidas de impostos e bandeiras tarifárias. 

 

Para entender um pouco sobre as tais bandeiras tarifárias, precisamos lembrar que a energia elétrica que consumimos nas nossas casas pode ter várias origens. Pode ser hidroelétrica, eólica, solar, originária de biomassa ou de combustíveis fósseis.

No Brasil, nós temos uma matriz energética bastante diversificada. A maior parte, no entanto, vem das hidroelétricas.

Quando a quantidade de água nos reservatórios diminui, o governo apela para a compra de energia das termoelétricas, que queimam combustíveis fósseis, e têm um custo de produção superior ao das hidroelétricas. Isso se reflete imediatamente no aumento da conta da tarifa.

O governo oficializou esse tipo de reajuste quando criou as bandeiras tarifárias. Sempre que o nível das águas diminui, o governo aumenta a tarifa para forçar que os usuários diminuam o consumo. Atualmente, as bandeiras tarifarias são classificadas em quatro níveis: verde, amarela, vermelha1 e vermelha 2. Quando prevalece a bandeira verde, não há cobrança adicional; na bandeira amarela, acrescenta-se R$ 2,99 para cada 100kWh consumidos; na vermelhar 1, acrescenta-se R$ 6,50 e na vermelha 2, R$ 9,79. 

O total a ser pago pelo consumidor engloba os custos com a geração, transmissão, manutenção das redes, impostos e o lucro da distribuidora.

Os valores cobrados dependem do tipo de consumidor, que pode ser classificado como consumidor de baixa tensão ou de alta tensão. 

Mesmo que você não consuma nada no mês, você terá que pagar uma taxa mínima.

A chamada tarifa social é um mecanismo criado pelo governo para facilitar a vida dos mais pobres. Trata-se de um mecanismo que limita o valor das contas de menor consumo. 

O uso da conta de luz na sala de aula não necessita ficar restrito ao cálculo do consumo. Ele pode ser ampliado para os campos político e social e abordar temas como a sustentabilidade ambiental, o aquecimento global ou o acesso das pessoas mais pobres aos bens de consumo. 

Podemos discutir sobre a composição da matriz energética brasileira e sobre a importância da utilização de energias renováveis para que possamos contribuir para a sustentabilidade e a preservação da vida no planeta.

Podemos ainda, de uma forma mais pragmática, discutir sobre os comportamentos que permitem economizar energia e sobre o uso de equipamentos energeticamente mais eficientes, que consomem menos energia para produzir os mesmos resultados.  

 

Parece uma boa forma de ampliar a qualidade das aulas.



[1] Físico e Professor 

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