SOBRE AS QUEDAS DO JOGADOR E OUTROS ESCORREGÕES
SOBRE AS QUEDAS DO JOGADOR E OUTROS ESCORREGÕES
José Fernandes de Lima[1]
A mídia esportiva costuma criar ídolos que ajudam a movimentar o noticiário.
Por isso, de vez em quando, coloca nas costas de alguns jogadores a responsabilidade pelo sucesso de determinado esporte. No caso do futebol, essa prática é muito frequente.
Começa dizendo que o jogador é um gênio, que o seu talento vale por um time inteiro, que o salário que recebe é até pequeno em função dos grandes espetáculos que oferece. Segue mostrando que o nosso futebol está fadado a ser o melhor do mundo e que podemos confiar plenamente no nosso novo atleta e herói. É dito com frequência que, se ele jogar bem, a nossa seleção será campeã e se o seu desempenho for fraco, poderemos sair derrotados.
Esse comportamento é reproduzido pelos torcedores e como consequência coloca-se uma grande carga de responsabilidade sobre os ombros do jogador. Muitas vezes, essa pressão psicológica termina por desencadear atitudes inesperadas.
Num caso recente, o jogador de futebol, escolhido como redentor da pátria, vendo-se impossibilitado de apresentar o desempenho esperado, resolveu adotar um comportamento não convencional. Diante da possibilidade de não atingir as expectativas colocadas, o jogador começou a construir justificativas prévias. Passou a pegar a bola, aproximar-se do adversário e jogar-se no chão, mesmo que isso pudesse resultar em pequenas contusões. Entrava em campo, atirar-se no chão e apostava que se as coisas dessem errado, a culpa seria atribuída aos adversários violentos e detentores de melhor condicionamento físico.
O quanto essa atitude era tomada de forma consciente ou inconsciente pode ser motivo de questionamentos e de estudos teóricos, mas limitaremos nossa análise aos resultados que essa estratégia produziu.
Depois de funcionar durante um determinado tempo a estratégia começou a fazer água. Outros jogadores começaram a imitá-lo e os juízes passaram a desconfiar que naquele comportamento havia malandragem. Diante das repetições, os juízes pararam de apitar as faltas.
Como resultado, o jogador começou a ser visto por uma parcela da população como um enganador. Inicialmente, pelos adversários e em seguida também pela torcida local.
A população perdeu a crença no seu jogador que já não dispunha de alternativas e o seu prestígio começou a cair até diante dos comentaristas que inicialmente inflaram a sua competência.
Esses fatos, ocorridos faz tanto tempo, devem ser relembrados porque o comportamento citado pode não ser privilégio dos jogadores de futebol.
Obviamente, nem todas as profissões permitem a adoção de tal comportamento.
Para um cantor profissional, pode não ser tão fácil “jogar-se no chão” e colocar a culpa nos músicos. Quando sua voz começa a falhar, a plateia percebe de imediato. Dificuldade semelhante deve encontrar um lutador de MMA que deseje fazer corpo mole. Se o esquema não for combinado com o adversário, ele corre o risco de apanhar muito e sair do ringue direto para o hospital.
No ambiente político profissional, a estratégia adotada pelo jogador citado tem maior chance de prosperar.
A exemplo do que fizeram os comentaristas de futebol, a mídia pode inflar o prestígio de determinado político e alçá-lo à condição de grande administrador e grande liderança de modo a ter o seu nome recomendado para um cargo importante.
A população entusiasmada passa a acreditar na capacidade do individuo, a crer que ele é um campeão e o escala para o cargo.
Em geral, quando o individuo que foi guindado a tal posto descobre que as competências requeridas para o cargo estão acima das suas capacidades, começa a se jogar no chão e a colocar a culpa nos adversários.
Como no caso do futebol, essa estratégia funciona por um tempo até que a sociedade desconfie que pode estar sendo enganada.
Há um problema nessa comparação, pois a duração de um mandato político é muito superior a duração de uma partida de futebol.
Se no caso do futebol a solução pode ser obtida com a contratação de novos atletas, no caso político, faz-se necessária a conscientização da população para que eleja outro candidato mais qualificado.
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