SOBRE O EMAGRECIMENTO E O DESTINO DA GORDURA PERDIDA
SOBRE O EMAGRECIMENTO E O DESTINO DA GORDURA PERDIDA
José Fernandes de Lima[1]
Houve um tempo em que ter as bochechas redondas era sinônimo de saúde. Era comum se ver os mais velhos apertarem as bochechas das crianças e dizerem que elas estavam muito bem porque estavam gordinhas. Esse era um comportamento funcional quando a grande ameaça atendia pelo nome de subnutrição.
Hoje em dia, devido a modificação dos padrões alimentares, a obesidade tornou-se uma epidemia.
Pesquisadores afirmam que um terço das crianças brasileiras está acima do peso adequado. Situação semelhante acontece com os adultos.
Afirmam também que as grandes pandemias modernas (diabete, hipertensão, ansiedade...) estão diretamente relacionadas com o excesso de peso corporal.
O documentário cinematográfico “Muito Além do Peso” mostra que as crianças brasileiras não conhecem os nomes das frutas e dos legumes, mas conhecem os nomes das comidas enatadas. Mostra também a contribuição da propaganda de refrigerantes e salgados para o aumento da obesidade infantil.
Essas crianças são comumente submetidas a tratamentos discriminatórios.
Como decorrência desses fatos, o combate à obesidade virou uma preocupação universal. A promessa de adoção de nova dieta e prática de exercícios tornou-se a mais frequente nas comemorações do ano novo.
Surfando na onda do combate à obesidade, prosperam as receitas milagrosas que prometem a perda de peso em poucos dias e, quase sempre, sem grandes esforços.
Mesmo sem explicar como pretendem promover o emagrecimento, tais dietas são de tal forma convincentes que os pacientes sequer se interessam em saber como se dá o processo de emagrecimento.
Tivessem um pouco mais de curiosidade, os pacientes poderiam verificar que a perda de gordura é um processo químico dotado de certa complexidade.
A gordura corporal é resultante das calorias estocadas. Em temperatura ambiente, as gorduras podem ser sólidas ou liquidas.
Quimicamente, a molécula de gordura é um éster formado pela união de três ácidos graxos com uma molécula de glicerol. As moléculas que contribuem para gordura são chamadas de triglicerídeos ou triglicérides.
Os triglicerídeos, formados de carbono, hidrogênio e oxigênio, estão presentes em vários alimentos, especialmente nos alimentos ricos em carboidratos, mas a maior parte daqueles que circulam no nosso sangue são produzidos no nosso próprio organismo.
Quando comemos mais do que necessitamos para o nosso consumo diário, o excesso de carboidratos e proteínas é convertido em triglicerídeos e podem ser armazenados nas células adiposas que ficam localizadas embaixo da pele ou em volta dos órgãos internos.
O leitor, mais curioso do que aqueles pacientes que compram as receitas milagrosas, deve se perguntar: O que acontece quando perdemos peso? O que acontece com a gordura? Ela vai para onde?
Pelo menos uma parte da resposta pode ser encontrada nas nossas antigas aulas de química.
Para perder peso, é necessário queimar triglicerídeos (C55H104O6), o que é feito por um processo de combustão. O hidrocarboneto funciona como o combustível e o oxigênio como o comburente. A reação produz dióxido de carbono (CO2) e água (H2O).
Convém observar que, quando as moléculas de triglicerídeos são metabolizadas no ciclo de Krebs, ocorre a geração de energia, mas os átomos não desaparecem. Eles passam a se juntar em novas moléculas. 84% da massa dos triglicerídeos são transformadas em dióxido de carbono (CO2) e 16% se transformam em água (H2O).
A água é eliminada através das fezes, da urina ou do suor enquanto o dióxido de carbono (CO2) é eliminado pelos pulmões, através da respiração.
A constatação de que a maior parte da gordura é eliminada através do nariz em decorrência da respiração não significa que o individuo possa ficar deitado e respirando até emagrecer. Para emagrecer, ele necessita movimentar os músculos e provocar a reação que vai queimar os triglicerídeos. Além disso, a taxa de queima necessita ser superior a taxa de ingestão dos alimentos energéticos.
O resultado da perda de peso depende de diversos fatores que vão além dos mecanismos bioquímicos e o tratamento não se resume à restrição calórica.
Por isso, mesmo que não compreenda os detalhes das reações químicas, o leitor pode se considerar liberado para seguir o regime sugerido pelo seu médico.
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