VAMOS FAZER NOSSOS PLANOS DE EDUCAÇÃO


O artigo abaixo foi publicado no Jornal do Dia de Sergipe no dia 8 de maio.

VAMOS FAZER NOSSOS PLANOS DE EDUCAÇÃO
José Fernandes de Lima[1]

A educação brasileira entrou na pauta das discussões políticas e com isso está ganhando importância no cenário nacional. Essa é uma notícia boa porque um bom diagnóstico da situação e um maior envolvimento da sociedade são ingredientes importantes para que se possa obter a melhoria da qualidade da educação.
Em dezembro de 2010, houve a divulgação dos resultados do PISA – Exame Internacional de Avaliação de Alunos - no qual o Brasil, dentre 65 países participantes, ficou em qüinquagésimo terceiro lugar. O baixo desempenho do País chamou a atenção da população que, pela primeira vez, debateu intensamente esse assunto, demonstrando que realmente está interessada e querendo ver a educação brasileira entre as melhores do mundo, numa posição compatível com o desenvolvimento econômico do País.
Ainda em dezembro, o Ministério da Educação entregou ao Congresso Nacional um documento construído com base nas discussões realizadas na Conferência Nacional de Educação, nas contribuições do Conselho Nacional de Educação e dos técnicos daquele ministério, aprovado pela Presidência da República e que deve servir de base para construção do novo Plano Nacional de Educação.
No primeiro dia do ano de 2011, a Presidenta Dilma, no seu discurso de posse, registrou o seu interesse em investir na melhoria da educação, assumindo inclusive o compromisso de ampliar os recursos destinados a esta política pública. No referido discurso a presidenta fez menção específica a formação e valorização dos professores e ao compromisso com a ampliação dos investimentos em educação.
A imprensa tem dado uma grande cobertura para as notícias referentes à educação e de acordo com essas notícias há no seio da sociedade um sentimento generalizado de que a educação básica necessita melhorar. Têm sido identificadas deficiências na oferta de vagas, na infraestrutura inadequada, no número excessivo de reprovações, na falta de bibliotecas e laboratórios e na inadequação dos conteúdos ensinados.
Não obstante as redes estaduais e municipais tenham desenvolvido muitas ações em prol da melhoria da educação, por falta de um maior planejamento, muitas vezes, essas ações aconteceram de forma desencontrada e com baixa eficiência.
Sabemos que a União concentra seus esforços na manutenção das instituições de nível superior e possui pouquíssimas escolas de educação básica ( apenas 0,2%). Desse modo, o verdadeiro debate sobre a melhoria da educação básica deve acontecer nos estados, no Distrito Federal e nos municípios.
Para que a melhoria da educação básica aconteça, é muito importante que cada estado ou município inicie localmente essa discussão, tendo como foco o melhor atendimento aos seus alunos e uma verdadeira melhoria da qualidade da educação oferecida para sua população.
Ainda no tocante a movimentação em torno da melhoria da educação, convém destacar que o Congresso Nacional está discutindo o Projeto de Lei que regulamentará o novo Plano Nacional de Educação. Trata-se de um projeto que irá regular a educação brasileira pelos próximos dez anos. Isso significa que estamos vivendo um momento decisivo da educação nacional. A existência de um plano nacional de educação é fundamental para que configuremos o sistema nacional de educação e tenhamos uma educação de qualidade para nossos alunos.
A ideia de um plano nacional de educação é uma ideia antiga que começou a ser acalentada no início do século passado, nos primeiros anos da república, por um conjunto de intelectuais que entendiam ser necessário um investimento sistemático em educação para o crescimento do país. O Manifesto dos Pioneiros da Educação, apresentado em 1932, defendia fortemente a necessidade de um plano nacional de educação.
O primeiro plano nacional foi feito em 1962, já sob os auspícios da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O último plano teve início em 2001 e vigorou até dezembro de 2010. O plano que está sendo debatido deve vigorar até 2020.
Para que um Plano Nacional de Educação tenha sucesso, é necessário que, além de ser fruto de um grande debate, ele seja desdobrado nos planos estaduais e municipais.
A preparação dos planos estaduais e municipais deve ser feita com base num grande diagnóstico da situação da educação local e tendo em vista a percepção de educação da sua população, o que deve ser obtido através de um amplo debate com a sociedade. Nenhum estado ou município deve ficar fora desse processo sob pena de fracassar na oferta de uma educação de qualidade para sua população.
O movimento gerado pelo Ministério da Educação ao enviar para o Congresso Nacional o Projeto de Lei que cria o novo Plano Nacional de Educação fornece aos estados e municípios uma chance para que discutam sobre a construção de seus planos de educação.
Para que a discussão seja feita com qualidade, é necessário partir de um diagnóstico, estudar o que está se passando no Brasil e no mundo, criar um espaço democrático de debate capaz de envolver os diversos setores da sociedade, construir coletivamente um projeto que parta do diagnóstico e contemple todos os sonhos da sociedade, discutir com essa mesma sociedade as formas de viabilizar esse projeto, seja do ponto de vista administrativo, seja do ponto de vista financeiro e, finalmente, discutir esse projeto com a comunidade e aprová-lo na Assembleia Legislativa ou na  Câmara de Vereadores, de modo a transformá-lo em Lei para que deixe de ser um plano de governo e passe a ser um plano de Estado.
A elaboração do plano Estadual ou Municipal de Educação é uma tarefa de toda a sociedade. No entanto, cabe aos governos estaduais e municipais a tarefa da condução do processo democrático para viabilização dos referidos planos, uma vez que, são as secretarias de educação que detêm as principais informações sobre os sistemas educacionais a que pertencem. Além disso, possuem a capacidade de mobilizar as escolas e as comunidades das diferentes áreas do município ou do estado.
Do mesmo modo, não podem ficar de fora desse processo os Conselhos Estaduais e Municipais de Educação. Essas instituições detêm o conhecimento da legislação educacional e por semelhança com o que ocorre com o Conselho Nacional de Educação são órgãos responsáveis pela elaboração desse documento.
É sabido que o desgaste do dia a dia decorrente da necessidade de resolver problemas administrativos deixa pouco tempo para que os gestores consigam pensar até mesmo a melhoria da sua gestão administrativa, quanto mais o destino da educação geral do estado ou do município.
Para resolver essa dificuldade, o governo do estado (ou do município) deve constituir um fórum com a participação de gestores, de representantes dos docentes, dos estudantes e dos movimentos sociais. Deve orientar para que o processo seja conduzido democraticamente.
São simples os passos que devem ser seguidos pela citada comissão: realização de estudos preliminares sobre a situação da educação nacional, do estado e do município; diagnóstico da situação educacional;  diagnostico da situação financeira do sistema de ensino em questão; sensibilização e mobilização da sociedade para elaboração do Plano; análise da realidade socioeducacional; definição dos objetivos e prioridades; discussão sobre as propostas para superação dos problemas detectados; definição das diretrizes e estabelecimento de metas; definição e organização dos mecanismos de avaliação e acompanhamento; aprovação na assembleia legislativa ou câmara de vereadores, publicação e divulgação do documento final.
O mais importante disso tudo é que o processo seja construído de forma democrática, com participação de expressiva parcela da população, evitando as discussões de interesses privados e na perspectiva do atendimento dos alunos e da garantia do direito de aprender.
A construção de um plano de educação – municipal ou estadual - pode requerer um pouco de trabalho, mas o resultado é sempre compensador.


[1] Físico e Educador

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