“O desprezo brasileiro pelas gerações do futuro”




“O desprezo brasileiro pelas gerações do futuro”

Trago para conhecimento dos colegas a carta publicada pela Academia de Ciências de São Paulo sobre indicação do ministro de Ciências e Tecnologia.


Academia de Ciências do Estado de São Paulo divulga carta com seu posicionamento sobre a indicação do bispo Marcos Pereira como Ministro da Ciência e Tecnologia, caso Michel Temer assuma o governo
Leia a carta abaixo:
O desprezo brasileiro pelas gerações do futuro
Posição da Academia de Ciências do Estado de São Paulo sobre a indicação de um religioso como Ministro da Ciência e Tecnologia
Qual a probabilidade do sucessor do Papa Francisco ser um cientista? Todos concordam que é nula. A não ser que o Vaticano ficasse no Brasil, onde um deputado que é bispo licenciado de uma igreja evangélica aparece cotado para ser Ministro da Ciência e Tecnologia.
O problema de existir no Brasil uma probabilidade de que algo tão inusitado aconteça não se relaciona com uma disputa histórica entre a ciência e a religião de como interpretar o mundo. Isto porque, no Brasil, a religião e a ciência coexistem pacifica e civilizadamente. Mas as duas formas de ver o mundo são muito diferentes bem como a formação e os métodos. Para gerir o MCTI é preciso ter formação em ciência, ou conhecê-la com profundidade.
O que a simples possibilidade de que um pastor de uma igreja evangélica seja cogitado para Ministro da Ciência e Tecnologia indica? Há duas possibilidades:
A primeira é que a indicação vem de um grupo que não tem a mínima ideia do que é ciência ou tecnologia e, possivelmente, nem mesmo sobre o que é religião. A incompatibilidade entre as visões de mundo das duas alas é histórica e não é preciso sequer ter um curso superior para ter ouvido isto várias vezes durante o ensino médio. Esta possibilidade, portanto pode ser descartada, pois qualquer grupo que esteja aconselhando o vice-presidente para montar uma estrutura de governo já deve saber disto e obviamente não cometeria um erro tão grosseiro.
A segunda é que a importância dada à ciência e à tecnologia pelo grupo que trabalha na montagem de um eventual novo governo para o Brasil considere o setor supérfluo a tal ponto que sequer pensaram em ser um pouquinho mais coerentes ao cogitar a indicação de um ministro para uma pasta tão importante. Será que mais uma vez, em meio a atual crise política, o loteamento de cargos irá prevalecer?
É óbvio o status que a Ciência e a Tecnologia tem nas grandes democracias cujas economias dominam o mundo, como os EUA, Canadá, Comunidade Europeia e Japão.  Seria mero acaso que os países cujo desempenho econômico têm sido melhor e cujas democracias têm se solidificado mais são aqueles que cuidam melhor da Ciência e Tecnologia?
Historicamente, o Brasil tem tido períodos de lucidez e investido em Ciência e Tecnologia. Criou o CNPq e instituiu um Ministério de Ciência e Tecnologia. Muitos Estados criaram Fundações de Amparo à Pesquisa (as FAPs) e passaram a fomentar pesquisa localmente. Mas alguns políticos parecem ainda não ter compreendido a importância do setor para a sociedade. Alguns ainda parecem crer que a ciência é inútil, pois não conseguem enxergar o futuro, que é o produto mais importante da ciência.
O sinal dado pelo governo que provavelmente irá se despedir em breve foi absolutamente lamentável, utilizando o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação como uma moeda de barganha política e com isto colocando o futuro do Brasil em risco.
Os políticos brasileiros precisam entender que defender que o Brasil tenha uma ciência forte, capaz de gerar novas tecnologias e manter o País na vanguarda do mundo de forma a torná-lo mais competitivo, não é uma questão corporativa dos cientistas. É uma necessidade da sociedade.
É da segurança e riqueza das futuras gerações que estamos falando. Por isso, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação deveria ter o mesmo nível de importância que o Ministério da Fazenda, se o governo realmente quiser pensar no real futuro do Brasil e não no que vai acontecer nos próximos 2 ou 4 anos.
Este é o motivo pelo qual o MCTI não pode, em hipótese alguma, ser moeda de barganha política, mas sim um ministério estratégico para o Brasil.

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