O ENSINO DE CIÊNCIAS E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

ARTIGO DE NOSSA AUTORIA PUBLICADO NO CORREIO BRASILIENSE

Correio Braziliense(DF), em 07/02/2013.

O ENSINO DE CIÊNCIAS E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

A discussão sobre ciência, tecnologia e inovação continua ganhando espaço nos meios acadêmico e governamental, com aparente concentração de esforços na construção de uma Agenda Nacional de Pesquisa. Essa discussão tem lugar diante de um cenário econômico mundial de incertezas, que nos leva a pensar sobre o modelo de desenvolvimento adotado pelo país e sobre as transformações que podem decorrer dos investimentos em tecnologia e inovação. As universidades e centros de pesquisa têm demonstrado nova disposição para a aproximação com o setor produtivo.

Ao mesmo tempo, cresce na sociedade o sentimento de responsabilidade pelos impactos causados em decorrência da aplicação da ciência sobre a natureza e sobre as relações humanas. Amplia-se a consciência de que o crescimento acelerado da produção de conhecimentos científicos tem, contraditoriamente, em muitos casos, potencializado a capacidade de exclusão social. Cresce também o consenso sobre a necessidade de evitar a exclusão decorrente da falta de acesso ao conhecimento científico, que leva à marginalização de significativos contingentes da população mundial.
Para que essas preocupações sejam devidamente contempladas, é necessário haver maior socialização dos conhecimentos científicos, por meio da oferta de Educação Básica de qualidade. Estudos mostram que a qualidade da Educação não tem acompanhado o desenvolvimento científico do país e apontam para necessidade de haver mais investimento nessa etapa educacional, notadamente no que diz respeito ao Ensino de ciências.
Enquetes realizadas com estudantes do Ensino médio mostram que, apesar da oferta irregular e da dificuldade de acesso, os estudantes valorizam a atividade e a carreira científica.
Por seu lado, discussões promovidas pela Academia Brasileira de Ciências, pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e pela Unesco têm mostrado que até o Ensino de ciência tradicional deixa a desejar: pela falta de oferta, pela baixa qualificação dos Professores, pela precariedade da infraestrutura de laboratórios das Escolas de Educação básica e pela falta de orientação adequada.
O Ensino de ciências no Brasil seguiu trajetória semelhante à de outros países, não obstante tenha sido dificultada pela prática de uma Educação excludente, que colocou o país em situação de atraso em relação às nações desenvolvidas. Esse atraso é um dos principais fatores que fizeram com que chegássemos aos dias atuais praticando um Ensino de ciência cuja qualidade está abaixo da necessária para a promoção do desenvolvimento econômico e social do país e, também, abaixo das expectativas dos estudantes.
Faz-se, portanto, necessário orientar as ações das Escolas, dos Professores e dos sistemas educacionais sobre o Ensino de ciências naturais para que possam promover uma melhora da Educação ofertada, não só no sentido de contemplar as necessidades científicas decorrentes do crescimento econômico que experimenta o país, mas, sobretudo, para a formação de cidadãos.
É necessário discutir o processo de Ensino-aprendizagem, a metodologia, os enfoques, as estratégias e os procedimentos educacionais para o Ensino de ciências naturais. Discutir, também, a introdução e a melhora da Educação em ciências desde os primeiros anos da Escola, como forma de atender à preocupação com o número reduzido de jovens que se orientam para as carreiras de natureza científica e tecnológica, bem como reduzir a preocupação com o pouco entendimento sobre a natureza e a importância do conhecimento científico demonstrado até pelos egressos de cursos superiores.
Entre as diversas formas de olhar o Ensino de ciências, defendemos que ele deve auxiliar no conhecimento do mundo e servir para promover a autonomia dos cidadãos. A Alfabetização científica e tecnológica define um contexto em que os saberes científicos contribuem para que o estudante adquira capacidade de comunicar o seu entendimento sobre determinados conceitos e de negociar diante de situações concretas.
Para que essas orientações funcionem adequadamente, a Educação em ciências deve ser entendida como parte da Educação geral. Na atual era do conhecimento, para fazer com que todos os cidadãos, independentemente de suas ocupações e interesses, sejam capazes de opinar e agir criticamente, o país necessita, urgentemente, investir na melhora do Ensino de ciências. Logo, é importante que o MEC introduza a avaliação do Ensino das ciências na Prova Brasil e que essa avaliação seja compatível com as diretrizes produzidas pelo CNE.
JOSÉ FERNANDES DE LIMA é Doutor em Física e Presidente do Conselho Nacional de Educação
MOZART NEVES RAMOS é Professor da UFPE e membro do Conselho Nacional de Educação e do Conselho de Governança do Todos pela Educação

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