QUAL O PRIMEIRO LIVRO QUE VOCÊ LEU?

O artigo a seguir foi pulbicado no Jornal O DIA de Sergipe.


QUAL FOI O PRIMEIRO LIVRO QUE VOCÊ LEU?

José Fernandes de Lima[1]



Na última quinta feira eu estive conversando com um grupo de pessoas interessadas em educação.  O grupo era grande e a minha tarefa era falar sobre o financiamento da educação brasileira. Falei sobre o FUNDEB, sobre a vinculação constitucional de recursos para educação, e sobre as propostas de estabelecimento de um percentual do PIB para educação que aparecem no Projeto de Lei que define o novo Plano Nacional de Educação. A discussão foi animada e as contribuições muito interessantes.

No final da conversa, eu perguntei às participantes qual era a lembrança mais remota que elas tinham das primeiras leituras. Em outras palavras, se lembravam do primeiro livro que tinham lido.

As respostas foram muito interessantes e variaram desde “foi um livro didático” até relatos detalhados do dia e do presente que recebeu. Uma das pessoas lembrou ter recebido o seu primeiro livro quando completou cinco anos de idade, outra disse que lembrava muito bem do dia em que a professora entrou na sala com um pacote e distribuiu livros para todos que já sabiam ler. Disse que passou a acreditar que sabia ler naquele dia, a partir do gesto da professora.

Alguns minutos depois dessa conversa, eu coloquei no twitter a mesma pergunta e comecei, imediatamente, a receber respostas que variaram desde não lembro até respostas completas com os nomes do livro e do autor.

No outro dia, já tendo voltado para Sergipe e ministrado outra palestra, fiz a mesma pergunta ao novo grupo e pude observar de perto a iluminação do rosto de cada um que respondia. Dava para perceber que eles estavam recordando a infância, estavam voltando no tempo e lembrando com alegria os momentos vividos.

Pude perceber, nos dois grupos, a influência de professores, de parentes e até de vizinhos que foram decisivos para o desenvolvimento do gosto pela leitura naqueles entrevistados.

Estou socializando essa experiência porque estou convencido que a amostra com que trabalhei não representa bem o universo da nossa população, uma vez que, ainda temos no nosso país um grande número de analfabetos e um número maior ainda de pessoas que não dominam a técnica da leitura ou não conseguem compreender o que leem.

Há, além desses, muitos outros que não têm acesso aos livros, seja por falta de recursos, seja por desconhecer os caminhos que levam à biblioteca. Dessas pessoas foi subtraído o prazer de descobrir outros mundos e de engendrar outros sonhos que são estimulados pela leitura dos livros. Quem está acostumado com a leitura sabe das possibilidades que se abrem quando temos nas mãos um bom livro.

Mario Vargas Llosa iniciou o discurso que proferiu por ocasião do recebimento do Prêmio Nobel de literatura dizendo:

“Aprendi a ler aos cinco anos, na classe do irmão Justiniano, no Colégio de la Salle, em Cochabamba, na Bolívia. Foi a coisa mais importante da minha vida. Quase 70 anos depois, lembro-me com nitidez como essa magia - transformar as palavras dos livros em imagens - enriqueceu a minha vida, quebrando as barreiras do tempo e do espaço e permitindo-me viajar com o capitão Nemo 20 mil léguas abaixo do nível do mar, lutar junto com d'Artagnan, Athos, Portos e Aramís contra as intrigas que ameaçavam a rainha nos tempos do sinuoso Richelieu, ou arrastar-me pelas entranhas de Paris com o corpo inerte de Marius às costas.”

Outros escritores e educadores fazem referência a essa entrada no mundo da leitura. Porém, como não temos espaço nesse artigo para discutir o que pensam esses educadores vamos nos deter apenas na observação que diz respeito à influência da escola nesse processo.

É sabido que os filhos das famílias ricas aprendem a ler aos quatro, cinco ou seis anos de idade, porque além dos cuidados recebidos nas escolas contam com o apoio dos pais e das famílias que adquirem livros, materiais didáticos e, se for necessário, contratam professores particulares. Por outro lado, os alunos procedentes das famílias mais pobres não possuem esse apoio externo e por isso necessitam do apoio decisivo da escola.

A melhor forma de compensar essas necessidades e evitar a injustiça é garantir uma escola pública e gratuita de qualidade para todos. Uma escola que seja capaz de receber e tratar bem os alunos independentemente de suas condições econômicas e sociais. Uma escola capaz de ensinar a ler e ensinar, além disso, o gosto pela leitura.

Seria muito bom que todas as escolas se comprometessem a fazer com que todos os alunos aprendem a ler antes de completar os oito anos de idade. Este é, na realidade, um compromisso que deve ser assumido por todos porque a luta em prol de uma escola pública de qualidade é uma forma concreta de exercício da cidadania.

Se o leitor quer aquilatar a importância da entrada no mundo das letras e rememorar momentos importantes da sua infância e da sua vida, tente lembrar os seus primeiros contatos com a leitura e responda para você mesmo a pergunta – Qual foi o primeiro livro (não didático) que você leu?



[1] Físico e Educador

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